Luz, Sombra e Verdade

Temas importantes comentados com isenção de ânimo são sempre bem vindos. Por isso mesmo publicamos neste espaço editorial veiculado por um jornal do Vale do Paraíba, perfeito para os dias de sombras que prometem assolar o País e encurralar a democracia.
“Em meio ao tsunami de boatos e à colossal enxurrada de fake news que invade o nosso dia a dia com os dois pés na porta, a reivindicar para si parcela considerável da timeline da nossa sociedade, o leitor é tragado violentamente por um ardiloso e criminoso redemoinho de mentira e desinformação, lançando-se na direção deste mar revolto e bravio a bordo de uma frágil embarcação que navega perigosamente à deriva.
Quando a verdade vai a pique, colocando em risco valores fundamentais como a liberdade de expressão, só resta ao jornalismo o papel de farol. Sim, um farol de credibilidade, que lança sobre a escuridão a luz da isenção, da ética, do apartidarismo, da pluralidade e da defesa do interesse público, cotidianamente vilipendiado por saqueadores nas mais altas esferas do poder no Brasil.
E a missão de manter acesa a flamejante chama da verdade – chancelando informações reais e separando-as da praga do joio semeado pela boataria de plantão, fiscalizando o poder público e pautando o debate de temas importantes para a vida do leitor – recai, com maior peso e responsabilidade sobre os ombros dos veículos impressos.
Os jornais têm sem seu DNA o aprofundamento dos fatos, a análise crítica das informações e a investigação jornalística, já impressa na alma das redações em letras garrafais. Há quem ainda perca o precioso tempo discutindo os jornais de papel – que já se tornaram geradores de conteúdo multiplataformas, adaptando-o ao novo formato do leitor -, ignorando por completo a verdadeira e urgente questão que se põe diante de nós: qual é o papel dos jornais? Discute-se a plataforma, não o conteúdo e a importância vital que ele tem.
O fenômeno das fake news é apontado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como, ipsis litteris, uma ‘preocupação global’. É uma real ameaça à democracia, à liberdade de expressão. Voraz, faminto e raivoso lobo em pele de cordeiro.
Nos EUA, as notícias falsas interferiram decisivamente na eleição do republicano Donald Trump. Aqui não ficamos atrás. As 10 notícias falsas mais lidas a respeito da Lava Jato tiveram mais alcance nas redes sociais que as 10 verdadeiras. E, como a eleição se avizinha, a situação vai piorar ainda mais – até porque as redes sociais se mostram incapazes de combater tal fenômeno com eficiência.
O cenário é preocupante e no horizonte a perspectiva é ainda mais sombria. Por isso, o jornalismo se mantém com a chama acesa, como a luz do farol que orienta velejadores neste oceano atormentado. Como sentencia o lema do jornal norte-americano ‘The Washington Post’, a democracia morre na escuridão. E o jornalismo é a chama do farol que não se apaga jamais.”