Essa expressão, comumente usada por mim no meu cotidiano, começou como uma brincadeira toda vez que precisava afastar pensamentos ou sentimentos negativos. Quando me irritava com algo ocorrido, por exemplo, no trânsito, ao invés de seguir com aquela chateação, de pronto dizia “limpa, limpa, limpa”. Se tivesse vontade de falar um palavrão ou de retrucar alguém… “limpa, limpa, limpa”. Se fosse descontar um sentimento ruim comendo ou gastando impulsivamente… “limpa, limpa, limpa”. Enfim, para tudo que não me trazia coisas boas, logo repetia meu mantra como se com aquelas palavras dissipasse a energia densa e a removesse de mim.
Com o passar do tempo, esse lema passou a ser aplicado na minha vida como um todo. Assim como arrumamos a casa, tiramos o pó dos móveis e despegamos do que não usamos, nossa vida também precisa de limpeza – não só do que está visível, mas do que está escondido no coração e na mente. Há momentos em que a vida sussurra, baixinho: “não cabe mais”. E não estamos falando da gaveta bagunçada ou do armário transbordando. Estamos falando da alma. Daquela sensação de que algo dentro de nós precisa de ar, de leveza, de silêncio e de recomeço.
Pode ser um sentimento guardado, um hábito que já não serve, um relacionamento que cansa ou até mesmo uma rotina que desgasta. Palavras não ditas. Mágoas guardadas. Medos repetidos. Há tanta coisa que a gente vai empilhando por dentro sem perceber. Muitas vezes, a bagunça interna se manifesta como ansiedade, cansaço ou aquela sensação de peso que não desaparece. E assim como a poeira se acumula num canto esquecido da casa, também se acumula nos cantos da alma. É por isso que, de tempos em tempos, é preciso parar e limpar.
O primeiro passo é olhar para dentro com honestidade e sem julgamento. Reconhecer o que está travando a sua vida é libertador. Depois, vem o desafio de desapegar, dizer “não” para o que drena energia, renunciar ao perfeccionismo e acolher o imperfeito. Limpar a vida também é saber dar espaço para o silêncio, ouvir sua própria voz e entender o que ela pede. E cada limpeza é um recomeço, uma oportunidade de se reinventar.
Deixar ir o que pesa é, também, criar espaço para o novo, para sonhos e alegrias, além de deixar a caminhada muito mais leve. Esse “limpa, limpa, limpa” a que me refiro não é sobre eliminar o que é difícil. É sobre escolher o que merece sua energia. E não se trata de faxina violenta, mas de um processo delicado, feito com choro, risos e coragem. É uma caminhada sem pressa, com orações sussurradas e decisões silenciosas. É uma limpeza que não tem cheiro de produto, tem cheiro de liberdade.
Lembre-se, caro leitor, soltar o que já cumpriu seu tempo não é abandono, é honra. É dizer “obrigada” e seguir. Às vezes, o que precisa ir embora não é algo ruim, mas algo que simplesmente não nos serve mais. E tudo bem. A vida não é sobre segurar. É sobre fluir.
E eu, vocês já sabem, prefiro viver assim, sei que sou mais feliz desta forma…limpando aquilo que precisa ser limpo e abrindo espaço para que a vida continue a florescer. E a você, querido leitor, desejo que se lembre sempre que a vida é como uma casa viva: de tempos em tempos, ela precisa ser arejada.
Drielli Paola – @drielli_paola. Servidora Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo. Bacharel em Direito, com pós-graduação e extensões universitárias na área jurídica. Entusiasta de psicologia, história, espiritualidade e causa animal. Apaixonada pela escrita.