Intuição

Às vezes, no meio da correria do dia, surge uma sensação. Não uma certeza, mas algo sutil, uma voz silenciosa que sussurra, como um eco distante, dizendo para tomar um caminho, fazer uma escolha, ou até mesmo deixar algo para trás. É aquilo que transcende as limitações do pensamento lógico e nos conecta a um saber que não pode ser verbalizado. Talvez isso seja o último vestígio do que há de mais profundo em nossa essência: a intuição.
Em sua pureza, não se submete à explicação. Ela é uma espécie de sabedoria primitiva, que emerge das profundezas de nossa consciência e, muitas vezes, nos desafia a questionar tudo o que sabemos sobre o mundo e sobre nós mesmos.
Na espiritualidade, acredita-se que estamos todos interligados a uma fonte infinita de sabedoria e luz. Essa fonte, que muitos chamam de Deus, do Universo, ou do Ser Supremo, nos guia através da intuição, que se manifesta como uma sensação interior. Para essa vertente, a intuição, em sua essência mais pura, não é apenas uma habilidade humana, mas também uma manifestação do divino em nós.
Para outros a intuição não é um mero impulso irracional. Ela é uma síntese da experiência, da percepção inconsciente de padrões que não conseguimos articular no momento, mas que, de alguma forma, já estão presentes em nossa mente. Platão, em seus diálogos, já sugeria que o conhecimento verdadeiro não é aquele que é adquirido apenas através dos sentidos ou do raciocínio.
O verdadeiro saber, para ele, era o conhecimento das ideias, das formas perfeitas que estão além do mundo material. Se tomarmos esse conceito, a intuição poderia ser vista como uma conexão direta com essas “formas” – uma percepção direta de uma verdade mais profunda e, muitas vezes, inefável.
O fato, ao menos para mim, é que a intuição não exige explicações ou lógica. Ela apenas sente. A razão, por outro lado, nos oferece a segurança das certezas, das fórmulas lógicas e das respostas imediatas. É palpável, estruturada e evidente. Mas, ao mesmo tempo, nos limita, amarra-nos aos contornos estreitos daquilo que podemos compreender com palavras e números.
A intuição, por sua vez, não se rende a essas limitações. Não depende de prova ou explicação. Intuição apenas é. E talvez seja por isso que ela nos incomode tanto, pois nos força a reconhecer que há aspectos do mundo e de nós mesmos que não podem ser conhecidos pela lógica.
Para mim a intuição é como uma bússola interna, uma ferramenta que todos carregamos. Se tivermos a quietude necessária, podemos senti-la como uma presença constante, nos orientando em direção ao nosso verdadeiro caminho. Costumo dizer que são “as vozes da minha cabeça”, vozes que falam comigo e me indicam o que fazer ou não. Eu sempre tento escutá-las.
Quanto mais as ouço, mais elas falam. E as vezes que não as ouvi me custou um preço alto, o qual não quero mais ter que pagar. Então ponho-me mesmo a seguir essas vozes – ainda que não me digam o caminho inteiro, tenho que é o suficiente para o primeiro passo.
E eu prefiro viver assim – sei que sou mais feliz desta forma… confiando naquilo que emerge da minha alma, tendo como norte a minha intuição – que segue cada dia mais aguçada. E a você, caro leitor, desejo que possa confiar na sua intuição também.

Drielli Paola – @drielli_paola. Servidora Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo. Bacharel em Direito, com pós-graduação e extensões universitárias na área jurídica. Entusiasta de psicologia, história, espiritualidade e causa animal. Apaixonada pela escrita.