Quando tudo acaba, a gente fica arrumando desculpas para o óbvio, pois o amor sempre pede proximidade. Quem ama quer estar perto e para isso, filho deixa o pai com a ponte de safena no peito e pula o muro no meio da noite. A moça paga o preço do voo que surgir na madrugada, atravessa o oceano e desembarca feliz depois de horas para encontrar o amado. Se há empecilhos é porque existe um muro. A barreira simples e transparente da falta de atração.
Quando acaba a atração, surgem logo porções de desculpas. Não posso, não consigo. Você merece alguém melhor do que eu. Não estou preparada para esse tipo de relacionamento. Um montão de esfarrapados argumentos para o mais simples: acabou! Se é que existiu! Surgiu algo mais interessante, que requer a atenção.
É duro se sentir usado, mas no fundo é isso mesmo. Por vezes na vida a gente acaba mesmo sendo usado para satisfazer alguns desejos vaidosos e egoístas de alguém. No fundo, a gente também usa, na maior parte das vezes para preencher um vazio afetivo. Para tal, acorrentamos alguém nas nossas possibilidades de atendê-lo em sua necessidade, para que fique por perto. É uma forma de protelar o imponderável final que já chegou. Velar o defunto por meses, sem dúvida é a grande bobagem que se pode cometer a ponto de adoecer a mente amargurada e depressiva.
Vinícius de Moraes casou por nove vezes e escreveu em seu soneto de fidelidade: “Que mesmo em face do maior encanto/ Dele se encante mais meu pensamento.”
Fidelidade é uma virtude moral. Firmada neste princípio da moralidade é perfeitamente possível que possa não prevalecer. Quando se torna recorrente, sinal de que o barco já afundou. Um elo forte e convicto, esse sim faz com que prevaleça sempre o desejo de optar pelo valor ao invés de se entregar a algum prazer passageiro. A maturidade traz sempre critérios mais coerentes no momento desta escolha. Alongar no tempo um voto dado no passado é criar mecanismos para permitir que a palavra dada seja sempre nova.
Que possa renascer com vigor e dar novas cores e sabores a satisfação de reafirmar no presente. Dizer que vai fazer e fazer, por vezes possui grande distância e efetivamente depende de alguns fatores para que seja sólido. Poeticamente, é preciso observar em que terras a semente foi plantada. Para que a fidelidade exista como virtude é preciso estar pronto para a decisão. Para que a promessa não seja vazia, para que o caráter não seja maquiavélico e que o amor não seja banal.
Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb