Em tempos de lacração, reflito a hipocrisia a partir da religiosidade vazia de atos sem nenhuma espiritualidade. Onde pessoas não são o que são, não são o que parecem e não parecem o que são. Por trás de muitos ritos, há muitas vezes um imenso baile de máscaras.
A bíblia relata que nenhuma outra coisa provocou mais a ira do Messias do que os hipócritas. E olha que quase sempre perto dele chegavam ladrões, adúlteros e todo tipo de desviados morais. A todos Ele acolheu, tratou e restaurou. No entanto, quando se tratava de hipocrisia, não encontrava meio para suportar os campões que eram e lamentavelmente continuam sendo muitos religiosos.
O filho de Deus sempre encontrava uma maneira de lidar com as incoerências humanas. Não havia dificuldade para a compreensão diante daqueles que fosse o que fosse, se expunham com a verdade. Zaqueu que o diga. Não esperava que o olhar de Jesus fosse direcionado a ele.
Uma vida recheada de gestuais pode ser uma teatralidade nojenta quando a gente percebe que no momento em que é preciso demonstrar amor ao próximo, o que se sobressai é o egoísmo da preocupação exclusiva com os próprios interesses. Quem planta colhe e quem cultivou indiferença deve sempre se preocupar em padecer da mesma falta de empatia quando estiver vulnerável. A ordem natural da vida coloca o ser humano na condição de no final dela carecer de braços e pernas para auxiliar sua sustentação. Um dia os passos ficam lentos e só fica até o fim aquele que depois da utilidade, descobriu o significado.
Sou cheio de incoerências, só não gosto de escondê-las e não vou me oferecer como referência a ninguém. Sou um religioso de araque. Não conheço todos os rituais, não conheço todo vocabulário e não domino a liturgia. Acho bonito quem sabe tudo isso, se compadece e não se conforma com a dor alheia. Toma como seu, o padecimento de seu irmão e se põe a caminho para que os sofrimentos sejam amenizados.
Não sei dormir com minha casa intacta sabendo que ali ao lado a do vizinho teve seu telhado arrancado pela tempestade. Mesmo que o mal tempo não seja minha culpa, não gosto de recostar a cabeça no travesseiro dizendo não ser problema meu.
Triste com o tempo perceber que seres humanos são tratados como descartáveis até mesmo por religiosos. Esses são muitos inseguros. Fácil perceber a noite, a consciência deve alertar que apenas representam. A hipocrisia torna o indivíduo cínico e com olhar voltado para o seu mundo, talvez por se considerar o centro das atenções. Não precisa de ninguém e carece de ser imitado.
Uma frase bem marcante que diz com a intenção de se colocar acima, mesmo quando não percebe é: “Deus abençoe”. Está se lixando para o outro, diz o que quer, se faz sempre de ofendido e no final repete isso, como se fora uma vítima da impureza alheia. Menos religiosidade e mais espiritualidade desejo a mim e a você.
Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb