Gira o sol que parou pra olhar

Desde que o mundo é mundo, quando passa uma bela mulher, alguém de bom gosto que se preze não resiste disparar um olhar. Com o advento da sexualidade banal, confesso que uma saia branca costumeira, já não seja um atrativo para a maioria e que algum romantismo seja coisa rara quando se trata do mistério poético que uma bela mulher possa causar no imaginário humano.

Já não sobrou quase nada que Tom e Vinícius pudessem anotar num papel de pão e que alguma garota linda e cheia de graça conseguisse inspirar a caminho de Ipanema.

Ocorre que não é da Helô que desejo lembrar. Nesses dias quentes de verão, que quase sempre tem nos reservado suas tempestades no fim da tarde, me veio à mente uma tal Professora Brasilina, que com certeza o caro leitor não recorda, mas que certamente a conhece pelo codinome “Sá Marina”.

Como toda figura feminina que desperta olhares de ódio e de admiração, sobre a musa de Tibério Gaspar, que a voz de Simonal jamais deixará morrer, não há sequer uma imagem gravada. Nem a própria que descia a rua da ladeira, anos depois, permitiu ser fotografada, para que o menino Tibério pudesse em sua retina, guardar sua jovial beleza que despertou tanta paixão, apesar dos seus poucos oito anos de vida quando foi seu aluno. Amor de aluno por professor é uma ternura que só quem viu que pode contar.

Que odor teria uma flor de laranjeira, que ainda hoje pudesse mostrar toda essa poesia no olhar. Não há o que guarde alguma curiosidade, já que o mais comum é revelar tudo mesmo. No mesmo dia ou mesmo minuto e por qualquer razão.

Juro, não é hipocrisia! Somente uma amargura de beirando os quarenta, ver que o mundo gira e que essa gente aflita se agita e segue no seu passo. Que poucos tem deixado alguma coisa e que a maioria só leva e suga quanto puder, empobrecendo tanto o tempo que subitamente se esvai.

As rugas chegam imponderáveis e quando as efervescências se findam, para boa parte desta geração, raras serão as cantigas para se cantar.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb