Fiado sobrevive apenas para clientes fieis e pessoas de confiança

QUEM nunca ouviu ou leu uma plaquinha com a frase ‘Fiado só amanhã’. Mas mesmo em tempos de crise o popular fiado ainda sobrevive e a prática é observada em vários estabelecimentos comerciais. Na caderneta, no caderno ou mesmo em fichas avulsas, auxiliam os comerciantes a controlar o pagamento na base da confiança.
Quem adota a prática, no entanto, restringe a venda apenas aos consumidores ‘de muitos anos’, ou seja, clientela fidelizada, ou pessoas de extrema confiança. Isso evita a inadimplência e prejuízos a ambas as partes.
Ivan das Neves Filho, o Dinho, mantém a caderneta há mais de duas décadas e diz que, antes dele, o pai também fazia uso desse tipo de instrumento de venda. “O que conta, ainda hoje, é a amizade com os clientes. São consumidores de muitos anos”, diz. Mas é taxativo ao dizer que não dá brecha para quem não é freguês de anos. “Às vezes vejo que a pessoa não tem dinheiro e não posso deixar que passe fome. Então colaboro, mas está longe de ser regra”, complementou Dinho.
Há muitos anos Amarildo Antônio Dezordi trabalha na Casa de Carnes Gaúcho, que é da família, e também faz uso do fiado para os clientes fieis e que compram há muitos e muitos anos. “Não são muitos os que compram ‘para marcar’, mas ainda existem. Nesse caso compensa vender fiado porque você fideliza o consumidor”, defendo Amarildo.
Já o dono da Godoy, Esfiha e Companhia, loja de salgados e doces vizinha da Casa de Carnes, a situação também é semelhante. “Poucos pedem para marcar e pagar depois. Na maioria dos estabelecimentos que conheço, apenas os clientes assíduos gozam dessa prerrogativa. Quem compra fiado e quem vende, assume uma relação de dupla confiança”, assinalou.
São Nunca – Em Mairiporã, além de açougues, padarias e lanchonetes, outros estabelecimentos também vendem fiado, como lojas, mercadinhos e bares localizados nos bairros mais afastados do centro. Lá o freguês tem um voto de confiança.
Mas outra frase famosa, “Fiado só no dia de São Nunca”, continua valendo.

VOCÊ SABIA?
A origem da palavra fiado tem seu berço no verbo latino “fidare”, que significa confiar. Quer dizer que, nesta operação comercial, existe uma relação de confiança entre comprador e vendedor. Uma curiosidade da expressão em inglês: “fiado”, no idioma de Shakespeare, é “on the cuff” ou “on the arm”. Sua origem está ligada ao fato de que, antigamente, os garçons anotavam, no punho (“cuff”) das mangas de suas camisas, o valor das contas dos clientes e, quando não havia mais espaço, escreviam no braço (“on the arm”).