Fechando o ano com ‘chave de ouro’

Escrevo esse artigo na última semana do ano 2021. Tinha imaginado abordar um tema trazendo perspectivas positivas para o ano que se inicia. Com foco na esperança de construirmos dias muito melhores para essa nossa sociedade impactada pelos adventos da pandemia. Porém, não imaginava ser possível as autoridades públicas federais rejeitarem a vacinação de crianças de 5 a 11 anos.

Talvez porque durante boa parte da minha carreira profissional atuei como educador de crianças e adolescentes na gestão pública. Ora como professor, diretor de escola e dirigente regional de ensino estadual. Ora como secretário municipal da educação de Mairiporã.

Meu laboral visava oferecer o melhor aos alunos nas condições que dispunha. Então vou expor minha visão dessa situação das vacinas para crianças de 5 a 11 anos.

Queiroga, o ministro da saúde de plantão, medico que jurou preservar vidas disse que “a decisão (dessa vacinação) ficará para 5 de janeiro”. Que a decisão da ANVISA “não é suficiente” e, num rompante que somente os medíocres apelam, afirmou: “Sou a principal autoridade sanitária do Brasil e não abro mão de exercer as minhas prerrogativas”.

Doce ilusão. Pelo menos 19 estados, através de seus secretários de Saúde, já se posicionaram que não irão cumprir a exigência protelatória daquele que diz ser “a maior autoridade sanitária do pais”. Não fugindo da rotina estados e municípios fazem sua própria gestão diante de um (des)governo na Saúde que trocou 4 ministros da Saúde.

Por mais evidencias cientificas para aprovar a vacinação infantil de imediato, o governo federal decidiu aguardar uma consulta pública e uma audiência pública, para depois decidir, mas manifestou a necessidade de prescrição médica para a vacinar cada criança.

Entretanto, no dia 25, em pleno Natal, como se fosse um presente para nossas crianças e adolescentes, o STF estabeleceu 5 dias para o governo explicar “prescrição para a vacinação infantil”. Com isso, passa a questionar a prepotente decisão do ministro apegado ao cargo que, para tanto, faz a vontade do chefe, encontrando uma maneira de dificultar a vacinação. Como? Exigindo prescrição médica para cada criança poder ser vacinada. Ou seja, serão mais de 2,1 milhões de atestados. Dificulta ou não?

Enquanto isso, os negacionistas acalorados, após tal liberação, passam a ameaçar a Anvisa com xingamentos e intimidações através de mensagens, e-mails e ligações.

A importância dessa vacinação está baseada na efetividade de seus resultados nos testes realizados em crianças e adolescentes e, também, porque a COVID 19 matou 2.625 indivíduos na faixa etária de 5 a 19 anos do começo da pandemia até o dia 6 de dezembro.

Há motivo maior para justificar a urgência dessa vacinação?

Pois bem, há outros aspectos relevantes a serem considerados segundo pesquisadores, agências reguladoras de diversos países (como a nossa Anvisa) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Quando se fala da eficácia e segurança da vacina para crianças, é importante destacar que se trata de um produto que é específico para este público. A vacina da Pfizer aprovada no Brasil para crianças tem dosagem e composição diferentes daquela que já está sendo utilizada para os maiores de 12 anos.

A Covid é risco para as crianças. Apesar das crianças correrem riscos menores que os adultos quando pegam Covid elas também podem ser vítimas da doença, Os mais de 2.600 óbitos registrados confirmam. Portanto, não é uma hipótese, é um fato!

Os Pediatras no Brasil, em carta, afirmam o risco: “A carga da doença na população brasileira de crianças é relevante, incluindo até o momento milhares de hospitalizações e centenas de mortes pela covid-19 no grupo etário em questão, além de outras já demonstradas consequências da infecção em crianças, como a Covid longa e a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), todas elas de potencial gravidade neste grupo etário”.

Outro aspecto inquestionável: as perdas na educação com essa pandemia. No Brasil, crianças de 6 a 10 anos são as mais afetadas pela exclusão escolar na pandemia, segundo a Unicef.  Mais de 2,1 milhões de crianças sem acesso à educação em novembro de 2020, nessa faixa etária de 5 a 11 anos. Portanto, “vacinar crianças com 5 anos ou mais pode ajudar a mantê-las na escola e a participar com segurança de esportes, jogos e outras atividades em grupo”, diz o órgão.

Outro aspecto fundamental, a vacinação infantil contribui na proteção de quem está em volta delas – inclusive outras crianças que ainda não atingiram idade elegível e, também, os membros da família que podem estar em maior risco de ficarem muito doentes se forem infectados.

Agora, com a nova variante Ômicron, que tem maior potencial de contaminação, a imunização coletiva passou a ter maior importância e o reforço de medidas preventivas levaram alguns países a acelerarem a aplicação de doses de reforço.

Então, por que não vacinar os pequenos com urgência?

Em 16 de dezembro a Anvisa sinalizou positivo a vacinação de 5 a 11 anos. O ministro disse que a decisão ficaria para 5 de janeiro próximo, alegando que “a pressa é inimiga da perfeição”, sem considerar que o retardamento da decisão poderá afetar milhares de pessoas, inclusive levar centena à óbito.

Inaceitável. Não ter pressa significa colocar nossas crianças sob risco, além, é claro, de fragilizar o próprio Programa Nacional de Imunização que, diante das mazelas do governo federal inicialmente na aquisição de vacinas colocando-o em xeque-mate.

Conclusão. Uma decisão equivocada, para satisfazer egos e garantir permanência no cargo, está colocando em risco milhares de pessoas no Brasil. Até quando?

Aproveito para desejar a todos os leitores um Prospero 2022, com muita saúde e dias melhores.

 

Essio Minozzi Júnior é professor de Matemática e pedagogo. Pós-Graduado em Gestão Educacional – UNICAMP; Secretário da Educação de Mairiporã (1997-2000) e (2017-2018), Vereador de Mairiporã (2009-2020)