Faltou bom senso ao Censo

O dito popular “Pau que nasce torto, morre torto”, tem sua origem em raízes no senso comum, uma concepção social de um povo ou de um grupo social, repetida no cotidiano. E serve à perfeição para retratar aquilo que o IBGE conseguiu fazer com o Censo Demográfico 2022. E não errou mais, porque o dinheiro acabou e todos os segmentos cobraram o fim dos trabalhos de coleta de dados.

É inadmissível um órgão federal, que sempre primou pela qualidade dos seus serviços, a maioria utilizada pelos governos para promover políticas públicas, mostrar um resultado tão catastrófico como o que chegou ao conhecimento público na quarta-feira desta semana. Inadmissível e inaceitável. Os números divulgados colocam em risco milhares de municípios brasileiros que dependem de repasses dos governos federal e estadual, que balizam fatores e percentuais justamente na quantidade de habitantes.

Para ficarmos apenas no exemplo de Mairiporã, a bagunça começou lá atrás, em 2021, quando o Censo foi cancelado pela segunda vez (a primeira em 2020, por causa da pandemia) e que em julho, como o IBGE sempre fez anualmente, divulgou a estimativa populacional.

Nossa cidade apareceu com um total de 103.645 moradores, que elevou o município a um outro patamar, ou seja, ultrapassou a barreira dos 100 mil, e resultou em verbas e recursos maiores de outras esferas governamentais. Aí veio finalmente o Censo 2022, que já nas primeiras ações mostrou que aquilo que foi projetado não iria dar certo. Como não deu!

A contratação de recenseadores esbarrou na falta de vontade de muitos brasileiros, inclusive os desempregados, e o que se seguiu foram dezenas de concursos, seletivas, etc e tal, em busca de recenseadores para o trabalho de coleta em campo. E não funcionou em nenhum momento.

Mesmo assim, como uma espécie de cereja do bolo, no dia 28 de dezembro do ano passado o IBGE divulgou a primeira estimativa do Censo. Ou algum maluco foi encarregado para essa missão, ou os estatísticos do Instituto simplesmente erraram tudo. Nessa data, Mairiporã apareceu com 113 mil habitantes, ou seja, cerca de 10 mil a mais que a estimativa de 2021. Claro que esse número não condizia com a realidade, mas como foi o IBGE quem disse, como não acreditar.

E nesta semana o bolo, com cereja e tudo, desmoronou. O IBGE reduziu a população de milhares de municípios (quatro da região) e não só retirou os 10 mil que afirmou ter Mairiporã no final de 2022, como tirou mais 10 mil da estimativa de 2021, trazendo como oficial a população de 93.617.

Todo esse processo nos leva a concluir que ‘amadores’ se ocuparam do Censo Demográfico 2022. Ou é isso, ou há algo que ainda não veio a público explicar essa bagunça em que se transformou esse processo.

Ao censo, num trocadilho infame, faltou bom senso.