Falando de felicidade

É fácil falar de felicidade no instante em que a gente se sente feliz, mas logo vem a incerteza sobre o próximo momento. A hora que as luzes se apagam, que se toca o fundo da incerteza sobre o amanhã. Apesar de hoje, o próximo passo é sempre um piscar de olhos. Deveria estar confiante, depois de ter caído tanto e ter se levantado tanto, achando que desta vez a lição havia sido aprendida.

Talvez o grande segredo não exista e que a felicidade deva ser mesmo o que dizem: algo que existe, mas não perdura. Que acontece e que sei vai. Nem sempre nos é visível. Por essa razão, o bordão: “Era feliz e não sabia”. Pior que isso é não ver valor onde tinha e só perceber depois de ter perdido.

Aprendi a ordinária presença de Deus e mesmo assim, facilmente desaprendo de maneira constante o que de fato importa. Vem a tristeza, como se essa fosse a maior certeza e prazer. Talvez por não sermos assim tão “deuses” quanto nos consideramos nos momentos de felicidade, a gente acabe sofrendo tanto e tantas vezes, sem fechar as feridas e sem absorver sequer uma palavra das tantas já ouvidas, e nem sequer assimiladas de fato.

Difícil ter esperança, quando o salgado das lágrimas nos afoga os lábios trêmulos e mudos; ter alegria sem certeza e de alma pobre e distante da verdade.

Como dói estar perdido e saber que foi por nós próprios, que as mãos desfizeram o laço do amor que sustentava os maiores valores, que constituem nossa essência pura e verdadeira.

Começar outra vez é até simples, mas persistir no propósito nos faz ainda mais impotentes e derrotados, porque sempre achamos que podemos recomeçar; mas esquecemos de que chegar é o mais importante e o que nos tornará verdadeiramente melhores. Afinal, por que desperdiçar a satisfação de acordar sorrindo? Irredutivelmente, optamos por ferir ao outro, e ao mesmo tempo a nós mesmos, com nossos gestos impensados e retroativos. Como diz o ditado: “persistir no erro é burrice!” Mas vou além: persistir no erro é ser fraco demais para compreender que a humildade é o melhor argumento, e que destruir é perverso.

O diabólico que há em mim se instala sem que tenha forças para combater. Quando vi, já dividi, particionei, quebrei tudo outra vez.

Aprendi que toda vez que sentisse saudade deveria cantar, mas com o passar do tempo, a canção vai ficando esquecida, a gente vai confundindo a letra, apagando trechos, a melodia vai parecendo careta e quando percebe; se pergunta: como é mesmo…? Morremos um pouco a cada dia e não nos damos conta de quantas vezes as pequenas coisas nos proporcionaram a tão almejada felicidade.

Ficar triste é olhar para nossas almas despedaçadas e sujas, mas estar triste é constantemente preferir que o vento leve os cacos para longe, sem ao menos quantificar as perdas e se lembrar que “ao mesmo tempo em que há uma dor acontecendo, há também uma alegria sendo preparada!”. Hoje não é fácil falar de felicidade, mas estou aprendendo a crer que o amor de ontem não serve para hoje, assim como acordar para a realidade de que a felicidade se esconde no sublime gesto de restaurar o que parecia velho e renascer para um Eu de mim mesmo, que me fará finalmente capaz de assimilar que os erros continuarão acontecendo, mas a maneira de lhe dar com eles, pode ser outra.

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb