Exposição em SP explora jogos como meio de reflexão sobre a sociedade

Sentada em frente a uma tela gigante, você ajuda uma idosa a caminhar pelo corredor de um cemitério. Ela vai dando passos bem curtos, apoiada em uma bengala. Todos os movimentos são conduzidos por você. Por meio de um controle, você a ajuda a caminhar e até a se sentar em um banco. Tudo é feito com dificuldade e reproduzido em uma tela grande, em preto e branco. Chamado de The Graveyard, o jogo criado por Aurina Harvey e Michaël Samyn, nos faz pensar sobre a velhice e a morte.

Este é apenas um dos jogos que estarão presentes na nova exposição em cartaz no Centro Cultural Branco do Brasil (CCBB), localizado na região central da capital paulista, aberta na quarta-feira (26). Playmode, como é chamada a exposição, já passou por Lisboa (Portugal), Rio de Janeiro e Belo Horizonte e agora desembarca em São Paulo, onde fica até 16 de janeiro.

Quem visitar o CCBB, em São Paulo, para conferir a exposição, encontrará 42 obras criadas por artistas do Brasil, Estados Unidos, do Japão, da Suíça, Croácia, Grécia, França, Nova Zelândia, Irlanda, Bélgica, Itália, de Portugal, da República Tcheca e Alemanha. A mostra explora o mundo lúdico dos games para provocar reflexões sobre temas como imigração, sustentabilidade, globalização, velhice e guerras.

A exposição é sobre jogos, mas não é de todo interativa. “É uma exposição que fala de jogos, mas é muito mais do que isso. O jogo é mais um meio do que um fim. A exposição traz reflexões e vai atrair um público que curte e entende de jogos, mas também vai atrair um público em geral porque é uma exposição de arte. Ela se utiliza dos jogos para trazer reflexões sobre a vida e o cotidiano”, explicou Cláudio Mattos, gerente-geral do CCBB SP.

A interatividade se concentra principalmente no segundo andar do edifício. É lá que se encontra The Graveyard e diversos outros jogos como Huni Kuin, elaborado de forma coletiva por antropólogos, programadores, artistas e indígenas do povo Huni Kui, que vive no Acre. Nesse jogo, um caçador e uma artesã passam por uma série de desafios para se tornarem, respectivamente, curandeiro e mestra dos desenhos. “Em Huni Kuin, programadores do estado de São Paulo vão trabalhar com populações indígenas do Brasil para pensar sobre práticas ancestrais, grafismos e pinturas. Ele nos ajuda a refletir sobre o futuro que queremos”, disse a curadora.

No primeiro andar também há alguma interatividade, com o visitante podendo, por exemplo, brincar com sua própria imagem refletida em um jogo.

Nos demais andares, especialmente no quarto e terceiro, a mostra é mais conceitual, com apresentação de vídeos, esculturas e fotografias. O quarto andar, por exemplo, é dedicado a uma reflexão sobre o papel das brincadeiras na sociedade e de que forma elas contribuem para a formação das nossas identidades. Aqui se encontra uma réplica da taça Jules Rimet, da Copa do Mundo de 1970, que foi vencida pelo Brasil, e um vídeo com pessoas vestindo a camisa da Seleção Brasileira de Futebol, tendo seus rostos tampados por elas. As obras são de Jaime Lauriano e discutem a utilização do futebol como instrumento de propaganda política durante a ditadura militar brasileira.

O terceiro andar, por sua vez, convoca os visitantes a pensar sobre sistemas sociais, políticos e religiosos. Um exemplo são os vídeos que mostram como os jogos têm sido utilizados para formar e treinar militares nos Estados Unidos e até para o tratamento de transtorno de estresse pós-traumático relacionado à guerra.

No andar térreo, logo na entrada do edifício, está uma das obras mais emblemáticas da exposição: o Xadrez Auto-Criativo, de Ricardo Barreto e Raquel Fukuda, que propõe uma reflexão sobre o tradicional jogo de xadrez.

A exposição é gratuita. Ingressos podem ser retirados antecipadamente pelo site  da mostra . Mais informações podem ser obtidas no site do CCBB. (Agência Brasil – Foto: Divulgação)