Exame de sangue

Abre a mão, fecha a mão. Abre a mão, fecha a mão. Abre a mão, fecha a mão. Como não sei qual é a hora certa de parar o movimento, continuo até que eu tenha certeza que a agulha já não está mais chupando meu sangue. Naqueles minutos (na realidade são apenas segundos, mas parecem ser minutos) tensos, tudo que eu faço é pensar: “Abre a mão, fecha a mão. Abre a mão, fecha a mão. Abre a mão, fecha a mão”. Será que está funcionando? Será que o sangue está bombeando do jeito que deveria? Acho que devo abrir e fechar, abrir e fechar, abrir e fechar com mais rapidez.
Não chego a ter medo de tirar sangue, porém não julgo quem tem. Afinal, é um tanto quanto incômodo ver aquela agulha entrando na sua pele, procurando uma veia que você nem sabia que estava lá. Além do mais, a partir do momento em que você entra na sala branca, nunca se sabe o que pode acontecer.
Na primeira ocasião em que tive que tirar sangue para um exame, depois de tantos anos sem tirar desde a infância, um tipo de milagre aconteceu: como era um dia de muito frio, a enfermeira teve dificuldade de achar a veia e, por isso, me fez deitar na maca e colocou uma coberta sobre mim. O resultado foi que não senti nada, nem o furo da agulha, nem a saída do sangue. Na segunda vez, estava confiante de que o feito da primeira se repetiria. Mas, como um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, foi completamente diferente. O dia também era um dia frio, mas a enfermeira não me fez deitar para que ficasse mais confortável. Pelo contrário, a moça não desistiu de maneira nenhuma de arrancar o sangue de lá, custe o que custar. Tanto que, depois de furar o braço esquerdo umas três vezes, ela partiu para o braço direito. O resultado não foi dos mais agradáveis, e acabei com dois braços roxos.
Mesmo depois de tantos exames de sangue, que já perdi a conta, estaria mentindo se dissesse que ver a agulha pinicando não deixa certa tensão no ar. Mas dura pouco. Logo, a retirada acaba antes mesmo de eu parar de abrir a mão, fechar a mão. Abrir a mão, fechar a mão. Abrir a mão, fechar a mão.