Estojo

Uso o mesmo estojo faz quatro anos. Ele já foi limpo, cheio. Hoje tem marcas. Lembro do primeiro dia, ele leve, vazio. Gostei da cor, um verde que combinava com o forro da mochila, que combinava com a capa do caderno. Claro, quase neon. Se foi a mochila, se foi o caderno, o estojo continua.
Continua com aquela mancha verde escuro em uma das pontas, daquela caneta que estourou. Na época, achei que uma lavagem tiraria. Amenizou, mas não tirou. Desde então, desisti de lavar as manchas e então surgiram novas. Daquela caneta rosa que esqueci aberta dentro dele, daquela caneta preta que por pouco não o furou.
Lembro que no começo sabia bem cada objeto que continha. Lápis, borracha, apontador. Hoje, nem sei mais, virou surpresa: será que tenho tal coisa? Hoje vejo as marcas de dobra no tecido, a etiqueta desgastada. Estava comigo na escola e foi para outra fase de tanto que o gostava.
O velho e roto não me incomoda. Só me faz lembrar do cuidado que já tive um dia, e talvez não tenha mais. Isso é bom? Desprendimento, desgarramento do material, liberdade. Isso é ruim? Falta de atenção, de lembrança, aquela correria que nos obriga a desapegar. Não sei. E faz diferença?
É só um estojo. Se não fosse, seria outro. Seria? Definitivamente, seria. Mas foi esse, meu, de antes e de agora, mas não do mesmo jeito. Como estojo, já não é mais, talvez um guarda-alguma-coisa. E não tem problema não ser mais o que já se foi, ciclos acabam. A gente deixa de olhar para as coisas como olhava antes.
Chega a esquecer, até que olha mais uma vez e repara as marcas, as manchas. Passado.