Escada

Tinha acabado de receber uma notícia muito boa, que mudaria os meus planos para as próximas semanas e, quem sabe para os próximos meses. Estava lendo um e-mail, justamente relacionado a essa notícia, enquanto descia as escadas. Os olhos no celular, um degrau, depois o outro, depois o outro, uma pisada em falso desatenta, e depois a dor.
Consegui fazer aquela cara de “nem doeu tanto assim” para continuar o caminho depois de torcer o pé. Isso porque uma senhora que estava logo atrás de mim começou a falar sobre a distração causada pelo celular e como ela pode provocar situações como essa. Nenhum “você está bem?”, mas vários “foi por conta do celular, não é?”. Dei um sorriso amarelo e confirmei. Ela não estava de todo errada, afinal. Se não tivesse com o celular em mãos, lendo a boa notícia, não teria deixado de reparar no passo que deveria dar a seguir. Até agora não entendi se esqueci de pisar no degrau ou se achei que um degrau inexistente estava ali.
Em um primeiro momento, realmente achei que não havia sido nada demais. Os primeiro passos foram quase normais, como se nada  diferenciasse dos que vieram antes da queda. Vinte minutos depois, o latejar do pé direito já não podia ser ignorado. Fui para casa mais cedo e passei o resto do dia aguardando estar melhor no dia seguinte.
Quando ele raiou, não conseguia nem colocar o pé no chão. Poderia ser o momento de ir para o hospital, mas não fui. Felizmente, a dor foi diminuindo e os movimentos do pé foram retomados durante a semana.
Depois de muita pomada, emplastro e outros remédios, aprendi a deixar de usar celulares em escadas.