Enfim, uma propaganda institucional oficial do governo na pandemia do coronavírus

Vi pela primeira vez nesta semana uma propaganda institucional do governo federal referente à pandemia. Depois de um ano e um mês da primeira morte por coronavírus no Brasil, surge um comunicado do quantitativo da vacinação contra o coronavírus no Brasil. Muito mais ‘promocional’ do que educativo.  No vácuo, as comunicações do consórcio dos veículos de imprensa vem fazendo campanha ‘Vacina Sim’ combatendo o negacionismo e cobrindo a omissão da falta de comunicação institucional, até então.

O governo utilizou o logotipo do SUS e, mais timidamente, o do Ministério da Saúde e do governo federal. A primeira morte por Covid-19 no Brasil aconteceu em 12 de março do ano passado, registra o Ministério da Saúde. A vítima foi uma senhora de 57 anos, de São Paulo. Desde então, o governo não atuou em campanhas educativas no combate à crise gerada pelo coronavírus.

Posso estar enganado, mas dá a impressão que o governo está envergonhado e se sente obrigado a começar tardiamente sua campanha de combate à Covid. Seja como for, o nosso presidente deu o braço a torcer, usou o SUS, que é uma política pública de saúde de Estado, está na Constituição, e não desse governo ou dos governos anteriores. Busca recuperar alguns pontinhos, impactado pelas mortes pela que levaram o Brasil ter 25% dos óbitos no mundo, acumulando mais de 380 mil. O Brasil está entre os três países com mais mortes pelo coronavírus no planeta.

Sem uma coordenação central do governo federal as ferramentas de combate à pandemia como isolamento social e vacinação deixaram a desejar, até o momento. São em torno de 14% de pessoas vacinadas com a primeira dose e 5% com a segunda no início dessa quarta semana de abril. Parte da população despreza a eficácia do isolamento social. Há quem responsabiliza o fato de não haver uma diretriz nacional unificando os entes federativos.

E a vacinação avança lentamente, por falta de vacinas diante dos erros do governo federal como, por exemplo, ter deixado de lado o contrato com a Pfizer em agosto quando receberia as doses em dezembro de 2020. Ter desprezado a Coronavac numa disputa pessoal com o governo paulista, chamando-a de CoronaChina. Hoje, mais de 80% das vacinas aplicadas até o momento no Brasil são do Butantan paulista e as outras são da Oxford/AstraZeneca através da Fiocruz federal.

O SUS tem capacidade de vacinar perto de 100 milhões de pessoas em três meses como fez em 2010, na campanha de imunização contra a “gripe suína” do vírus H1N1, causador da crise global naquele ano. Por isso, o quarto ministro da saúde durante a pandemia, Dr. Marcelo Queiroga, fala em 1 milhão de vacinas aplicadas por dia. Como diria o Garrincha, “falta combinar com o lateral adversário”, no caso, falta combinar com o presidente. Falta vacina Dr. Queiroga!

Na crise global atual o nosso presidente foi acusado pelo Parlamento Europeu de crimes contra humanidade por entender que “a crise é resultado de decisões políticas por parte do governo”. Por aqui, nosso presidente está sendo impactado pela CPI da Pandemia, no Senado Federal. Sem contar que o TCU está apurando possível “omissão do governo na gestão de remédios na pandemia”, e ainda, que o MPF processa o governo por responsabilidade na crise de oxigênio na Amazônia.

A recente crise de desabastecimento de kits de intubação em centenas de cidades e em Manaus, a Policia Civil juntamente com o Ministério Público investigam a morte de paciente com Covid tratada com nebulização de hidroxicloroquina, tratamento não aprovado pela ANVISA, mas o nosso presidente defende a nebulização da hidroxicloroquina.

Enfim, no legado dessa crise evidenciará os óbitos sem precedentes em nossa história, notadamente, a maior parte das mortes são de pessoas desassistidas socialmente, os chamados ‘invisíveis’ que sempre existiram nas periferias das cidades brasileiras, mas não reconhecidos adequadamente pelo sistema político e econômico do país por pura conveniência.