Eleições tem caracteristicas próprias e não trazem em seu bojo qualquer semelhança, por mínima que seja, com as anteriores. Essa afirmativa é feita desde que inventaram o voto popular. No caso específico do pleito municipal deste ano, no entanto, há uma novidade que não se via pelo menos há seis décadas. Trata-se do fim, ou da proibição, como queiram, das coligações partidárias na disputa proporcional, que no caso fazem referência aos vereadores.
Esse expediente altamente condenável era utilizado por todos os partidos como forma de garantir a eleição dos nomes mais importantes, usando os candidatos das agremiações ‘nanicas’ como ‘escada’ para conseguir ao menos uma cadeira, oriunda da soma dos votos obtidos nessa espúria associação. No pleito der 2016, pelo menos quatro vereadores de Mairiporã se beneficiaram dessa regra ilegítima, sem as quais estariam em outras áreas no mercado de trabalho, ou quem sabe ainda procurando emprego.
Com o fim do poder dos maiores sobre os menores (agora todos entram no jogo em condições de igualdade), especialistas avaliam que haverá dois comportamentos distintos. Nos municípios maiores – capitais e grandes cidades – os partidos serão obrigados a lançar candidatos próprios às prefeituras, de modo a assegurar competitividade para sua chapa de postulantes à vereança, enquanto nos demais, que representam quase 5 mil cidades, a lógica será outra. Nelas, a disputa deve ocorrer entre dois ou três candidatos a prefeito, com a convergência daqueles que pretendem concorrer a vereador. Destaque-se que há, na legislação, a chamada janela eleitoral (entre 5 de março e 3 de abril), que permite a mudança de partido sem perda do mandato para quem concorre à reeleição.
Os partidos com fartura de recursos financeiros (partidário e eleitoral) irão atrair número maior de candidatos a vereador, que também estarão atentos aos nomes mais competitivos a prefeito, inclinando-se por eles, já que serão beneficiados nas campanhas. A candidatura de Jair Bolsonaro, embora possa ser considerada como fenômeno eleitoral, permitiu a eleição de forte bancada a seu partido à época (PSL), que acabou com o segundo maior número de deputados federais eleitos em 2018.
Mesmo com esses mecanismos e estratégias, não há garantia que os partidos atinjam o quociente eleitoral (quantidade mínima de votos para eleger um representante), como também beneficiar os outros candidatos.
Em 2016, na cidade, partidos menores contribuíram para a soma de final dos votos da coligação, o que fez com que se puxassem candidatos que, sem a união partidária, teriam ficado de fora.
A nova regra, ou o fim da velha, veio acabar com a engenharia matemática, ou seja, com os chamados puxadores de votos, que do ponto de vista eleitoral produziam até bons resultados, porém desfiguravam o quadro da representação, enfraquecendo as legendas, que perdiam seu caráter ideológico ou programático, embora a maioria nunca tenha se atentado ou se preocupado com isso.
Com o fim das coligações persistem muitas dúvidas se 2020 será uma prévia das eleições gerais de 2022, com a indicação das opções do eleitorado para a Presidência, governadores e Congresso. A dicotomia se repete aqui: nas grandes cidades há essa possibilidade, como termômetro do futuro próximo, mas na maioria dos municípios a lógica local deve prevalecer, independentemente de apoios ou cálculos estratégicos sobre o futuro.