É preciso ter ‘saúde’ nessa guerra

A ‘guerra’ entre as operadoras de planos de saúde e os usuários é antiga, a cada ano ganha novos contornos e não se vislumbra nenhum movimento que estanque esse combate que é prejudicial aos dois lados.
Os reajustes de preço nos planos empresariais, que representa a maioria (80%), são livres, ou seja, negociados entre os convênios e as empresas contratantes. Entenda-se por livres, percentuais ao gosto das operadoras. Os planos individuais, que representam apenas 20%, tiveram no ano passado um reajuste percentual máximo que chegou a 7,3%, determinado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Ainda em 2019 adotou-se uma nova metodologia de cálculo, que combinava a variação dos custos assistenciais com a do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), e nesse último ficou de fora o Índice Plano de Saúde. Mudou alguma coisa? Nada!
O reajuste autorizado para os planos individuais foi exatamente o dobro da inflação anual, enquanto nos coletivos a questão foi ainda pior, reajustes entre 15% e 20%, ou seja, quatro a seis vezes o índice inflacionário. Nem a perda expressiva no número de conveniados parece ser um ingrediente importante nessa batalha.
Os convênios médicos alegam que apenas repassam os altos custos do setor. A inflação médica, que mede os preços dos serviços médico-hospitalares, tem registrado variações anuais entre 17% e 19% desde 2015, e embora esteja prevista uma queda de 2% para 2020, fixando a inflação médica em 15%, ela representa quatro vezes a variação de preços medida pelo IPCA.
A elevação dos custos médico-hospitalares é muito alta no País. Ela atinge o dobro da média global (8% para 2020), com 13,1% na América Latina, 6,4% na América do Norte e 5,7% na Europa. Várias empresas brasileiras, que são responsáveis pelo pagamento (total ou parcial) dos planos, vêm buscando alternativas, e assumindo a administração do convênio médico e a saúde de seus funcionários. Esse movimento, porém, é tímido e restrito às grandes companhias nacionais.
Quando se vai reajustar os planos, além da tal inflação médica, considera-se a frequência de uso do convênio, que estima-se tenha crescido 5,4% entre 2013 e 2018, ou seja, quem ainda tem plano, está fazendo uso com mais constância. E isso é extremamente preocupante, porque o País ainda não atingiu patamares elevados de envelhecimento da população.
Essa queda de braço é complexa, nenhum dos lados quer perder e a saúde pública no Brasil continua calamitosa. Uma das alternativas seria um prontuário unificado que mostrasse o histórico de cada paciente, o que evitaria repetições de exames e procedimentos.
Por outro lado, não se deve esquecer que, se a inflação médica não baixar, condição fundamental para a sustentabilidade dos planos de saúde, dificilmente não se sacrificará a qualidade do atendimento.
E aí sobra para o SUS, pois quem deixa de pagar plano de saúde, cada vez mais caro, se socorre da já exaurida saúde pública.