E agora, vereadores?

O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu um dos mais belos e conhecidos poemas da literatura brasileira. A primeira estrofe diz textualmente:
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Estrofe perfeita para nossos vereadores, depois que o prefeito anunciou o fim da implementação do Plano de Cargos, Carreiras e Salários este ano, porque a sua aprovação e envio ao Executivo para sanção se deu fora do prazo, ou seja, quando os impedimentos eleitorais entraram em vigor, exatamente um dia antes. Teria sido proposital? Com a palavra a presidência do Legislativo.
Este jornal cobrou dos vereadores, várias vezes, que voltassem ao trabalho em março e abril, ainda que remotamente. Fizeram ouvidos de mercador, preferiram ‘férias’ na conta do coronavírus, na contramão da maioria dos parlamentos espalhados Brasil afora.
A conta chegou agora. O projeto ficou dormindo na gaveta da presidência, o tempo correu célere e quando o despertador tocou já era tarde demais.
Todos sabem que o prefeito Antônio Aiacyda nunca quis ou que um dia vá querer implantar o Plano. Nem ele nem todos os outros prefeitos que passaram pelo Palácio Tibiriçá. Mas daí, lhe dar de presente um motivo para postergar a medida, foi uma dádiva.
Por outro lado, os vereadores das últimas quatro legislaturas tampouco demonstraram interesse no Plano de Cargos e Salários. O Sindicato da categoria sim, brigou sozinho. Os vereadores, neste momento, não tem outras justificativas plausíveis. Há quatro anos no cargo, nunca cobraram o Executivo. Até porque, em 2017 e 2018, estavam todos gozando as benesses do gabinete do prefeito.
Os servidores, que há anos aguardam por um documento que lhes faça justiça, tem o dever, agora, de esquecer desses políticos, especialmente quando aparecerem pedindo voto.
Aí será hora de parafrasear nosso poeta maior: E agora, vereadores?