Direção

Não sei se transmito a impressão de que sei onde estou ou se é apenas coincidência. O que sei é que a quantidade de pessoas que me para na rua para pedir informações parece ser maior do que o normal. Isso acontece principalmente dentro do metrô. “É aqui que pega o Barra Funda?” ou “Esse trem vai para a Paulista?”. Claro, não tenho problema nenhum em responder quando sei a resposta. Contudo, o problema é que são raras as vezes que eu sei.
Os meus caminhos sempre são muito pontuais. Isso significa que sei dizer de onde estou saindo e para onde estou indo. Lugares ou distâncias que vão além do meu perímetro pessoal não são o meu forte. Mas a situação é de pressão. O trem está chegando, o tempo para entrada é limitado. E a pessoa está ali, do seu lado, esperando que você defina por ela se deve entrar ou não ali, se está no caminho certo ou se deve procurar novos rumos.
Felizmente, não é raro que outra pessoa, ao perceber que não sei a resposta, responda por mim e declare se a direção é certa ou não. Assumo que, por vezes, mesmo sabendo a resposta, demoro um pouco para falar. Não é proposital. Mas ser abordado por uma pessoa desconhecida e tentar entender o que ela quer é um exercício complexo, pelo menos para mim.
Não lembro se já aconteceu de, por um erro meu, a pessoa ir em direção oposta. Em determinado dia, uma senhora até chegou a entrar no trem que levava a outra direção após eu dar a informação. Mas, como em um momento de clarividência, sozinha ela descobriu para onde deveria ir.
Desde então, o máximo que posso fazer é desviar de contatos visuais de pessoas perdidas e sedentas por resposta. Afinal, tem vezes que nem ao menos sei para onde eu mesmo estou indo.