Dias melhores para sempre

O dia começa e os personagens são os mesmos. Cada um indo para o seu lugar. Pode até parecer, mas os dias não são iguais. Todo dia uma nova chance, principalmente para quem acorda cedo e planeja os passos. Esse negócio de “deixa a vida me levar”, me perdoe, está mais para quem está com a vida ganha. Os mortais precisam sim ter foco, sabendo exatamente onde querem chegar e de que forma.

O que me pressiona a refletir é o quanto quem trabalha assusta os preguiçosos. Geralmente chamam o sucesso de sorte. Sorte minha ter trabalhado desde os tempos que embrulhava o dinheirinho na mão e corria para entregar a minha mãe. O que tinha mais valor não era o que aquela cédula seria capaz de comprar, mas a ansiedade e o prazer de vê-la abrindo a porta e poder entregar a ela o fruto do meu esforço.

Quando minha vida toda cabia em uma década, andava pelas nossas três ruas principais quase sempre com um avental branco, entregando os jornais. Me recordo do “Folha da Cantareira”. Quando eu recebo o “Correio” por vezes o cheiro me traz uma memória afetiva do odor das folhas dobradinhas na sacola e de porta em porta eu repetia o texto ensaiado. Aprendi bem cedo a ser educado. Gentileza sempre foi a chave que me abriu as portas da sociedade e o sorriso de quem recebia inconscientemente ia me dando a certeza de estar fazendo a coisa certa.

Lembro que em uma tarde passei por entre dois homens que conversavam e sabiamente um deles puxou-me pelo braço e com firmeza me repreendeu pela grosseria. Foi assim que passei a pedir licença se for necessário passar enquanto tem alguém conversando. No dia fiquei extremamente doído, mas fui entendendo que a bronca era necessária e que a dor ensina mais e bem rápido sobre como conviver.

Elegância! Essa eu só aprendi na idade adulta, mas como faz falta para tantos. Se compreendêssemos o seu significado, tudo seria bem melhor e esses personagens que todos os dias vão para seus lugares nos dias que parecem, mas não são iguais, talvez deixassem de morrer como se nunca tivessem vivido ou parassem de viver como se nunca fossem morrer.

Juro, há quem compra o que não precisa com dinheiro que não tem, para mostrar a quem não gosta. Vai entender!

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb