Dezoito!

(Para Carol)

Quanto tempo demora para que se passem dezoito anos? Para alguns, a vida toda. Não sei leitor, se você se lembra o que fazia nesta semana em outubro de 2003. Me recordo perfeitamente que estava apreensivo com o iminente nascimento da minha filha. Eu tinha apenas 21 anos.

Naquele momento tinha um mundo inteirinho em cima das minhas costas e chegou o dia. Era madrugada. Garoava fininho no início da primavera. Antes do dia clarear, subi a rampa e me deparei com a primeira imagem daquele bebê chorando e franzindo a testa. No primeiro momento parecia que iria cair. Quase precisei me segurar nas paredes, como se fosse um choque. Um ser vivo, um fruto, uma responsabilidade.

O filho não vem com um manual, desses que acompanham os aparelhos eletrônicos e os automóveis, para que possamos saber o momento certo de intervir ou dar alguma manutenção.

Costumo dizer que não estava pronto, mas duvido que estejamos totalmente prontos seja em que época da vida colocarmos um filho no mundo. Implica em tanta coisa, ter um pedaço de você fora do corpo para cuidar. Quando eles choram, por dentro a gente chora também. Quando eles sofrem, a gente sofre tanto quanto. Quando estão distantes, é pura preocupação.

Falhei tantas vezes, mas tenho um orgulho danado de não ter largado o osso. Por estar sempre presente e com responsabilidade. E não aprendi isso do meu pai, que não passou de um canalha e que viveu como se eu não existisse.

Ao contrário, quando me impediram fisicamente, estive sempre à espreita. Uma sombra protetora. Muitas vezes um anjo silencioso, mas nunca deixei para trás a missão e o presente da paternidade.

Essa semana ela completa dezoito. A valsa da menininha já não lhe serve. Talvez algum verso que eu possa lembrar de “Cartola”, sem desejar que o mundo seja um moinho, mas que a vida em algum dia demonstre a minha importância, o meu amor e a minha felicidade por ser pai dela.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb