Desespero na base

Quem não teve programa melhor na terça-feira e assistiu à sessão da Câmara, ficou com a nítida sensação de que os vereadores que apoiam o prefeito parecem querer acordar do estado de letargia a que estão submetidos. A maioria dos senhores edis fez uso da tribuna para justificar ações que adotaram ao longo dos últimos dois anos, dar explicações e cobrar a oposição acerca de termos e expressões utilizadas em sessões anteriores.
Ficou flagrante que o desespero começa a tomar conta de quem reza pela cartilha do alcaide, pois a sociedade mairiporanense não aguenta mais a forma como tem sido tratada e a maneira que a cidade tem sido administrada.
O ‘uso da palavra’ na tribuna, na terça-feira, virou bate-boca, ainda que em tom suave, mas com a clara promessa de que na próxima os ânimos vão se acirrar. O líder do prefeito, Gusto, em determinado trecho das discussões, disse ao vereador Doriedson “que não votou pressionado” o projeto de empréstimo de R$ 10 milhões, feito pela Prefeitura, e recebeu de volta o seguinte comentário do parlamentar do Rede: “só quero lembrar vossa excelência que durante dois anos fiz parte do bloco de apoio ao prefeito e sei muito bem como a coisa funciona”.
Os vereadores, desde o início desta gestão, decidiram que o melhor caminho era aceitar as benesses oferecidas pelo Executivo, como por exemplo, cargos em comissão para cabos eleitorais e correligionários, e declinar da representatividade do povo, ou como aconteceu em legislaturas anteriores, transformar o parlamento numa espécie de balcão de favores. Tem gente na Câmara que vive de acender vela para o Executivo, empunhá-la mesmo de pavio frágil, de chama fraca, supondo clarear caminhos.
A Câmara não pode se apequenar diante de situações graves, como as muitas que a cidade enfrenta, pois seus membros foram eleitos para defender o povo indistintamente e não se curvarem perante o Executivo e muitos dos seus interesses inconfessáveis, nem mesmo agir com pessoalidade em defesa de poucos e em detrimento de quase 100 mil habitantes.
Os vereadores precisam sair dessa passividade inócua em que estão mergulhados desde a posse, consumindo grande fatia do erário, e abram os olhos, desempenhem o papel para o qual foram eleitos, ou seja, fiscalizar e, se necessário for, instaurar comissão de inquérito para investigar o não cumprimento que envolva o desembolso de dinheiro público. Mas quem acredita em coelhinho da Páscoa?
Questões sobre recursos oriundos dos contribuintes de Mairiporã (como a enxurrada de nomeações de apadrinhados em cargos de comissão na Prefeitura) poderiam se objeto de investigação, por exemplo, por parte do Ministério Público, e assim deveria ser. Mas não é. Está subordinada ao deus dará.
Pelo que foi visto na terça-feira, quatro vereadores começaram a incomodar os outros nove. E diz um antigo ditado, até um pouco adaptado, que profetiza: “quem muito explica dá bom dia a cavalo”.