Não bastasse a qualidade do ensino, questionada desde sempre, a chegada da pandemia e o cancelamento presencial de alunos nas escolas parece ter servido de alavanca para os resultados da nota técnica divulgada esta semana, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, que revela a face mais cruel da Educação no Brasil.
Segundo a informação, o número de alunos com 6 e 7 anos que ainda não sabem ler ou escrever cresceu 66% na pandemia, contingente que em dois anos passou de 1,4 milhão para 2,4 milhões. Claro que a pandemia tem servido de bengala para a incompetência dos governos, em todos os níveis, em todos os setores. Antes mesmo dela, a Educação brasileira colecionava toda sorte de problemas, a maioria com muitas décadas de descaso.
A constatação de que esse exército de crianças que não sabe ler ou escrever parece ter chocado parte da sociedade brasileira, porém não vai resistir a dois ou três dias na mídia. Logo será esquecida, assim como tantos outros problemas que envolvem estudantes Brasil afora.
Os números revelados escandalizam mais ainda quando se observa que crianças analfabetas saltaram de 25% em 2019, para 40,8% no ano passado. Ou seja, se aproxima velozmente da metade de toda essa faixa etária. Preocupante? Sim, menos para quem deveria conter e solucionar esse avanço rumo à ignorância absoluta.
Metas que constam da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estipulam que uma criança deve acabar a alfabetização aos 7 anos. No Brasil, pelo que se vê na prática, deve chegar a essa idade completamente analfabeta.
O escárnio revelado por esse estudo, vai mais além, e envolve diferenças entre crianças brancas e pretas e pardas, das que residem em domicílios mais ricos e nos mais pobres, dentre outros comparativos.
Na outra ponta dessa história, o otimismo infundado do diretor executivo do Todos Pela Educação, Olavo Nogueira Filho, que aparece em reportagem do G1 se dizendo otimista, pois, segundo ele, “a boa notícia é que o Brasil tem um modelo de sucesso no que diz respeito à alfabetização”. E cita o caso do Ceará, no qual o governo do estado passou a coordenar as ações junto aos municípios.
Se a boa notícia mostra um único estado comprometido com a Educação, de se imaginar as más. E dizer que o Brasil tem um modelo de sucesso na alfabetização é substimar a inteligência das pessoas.
Nesse pacote de tragédia, constata-se ainda que o ensino remoto teve efetividade muito baixa do ponto de vista pedagógico. Ou seja, prejudicou todo mundo. E convenhamos, nem precisava da pandemia para se comprovar o óbvio.
Fato é que a Educação não é levada a sério no Brasil, evidenciada cada vez mais pela questão estrutural, que acentua a desigualdade marcada por questões de raça, cor e condição sócio-econômica.
E ainda há setores educacionais que defendem com todas as forças a continuidade do ensino remoto.
Ao País dos desdentados, muito em moda nas décadas de 1980 e 1990, somam-se mais e mais analfabetos, em plena era tecnológica.