Desaparecidos

Já reparou que alguns objetos desaparecem sem razão alguma?
Certo dia eles estão em um lugar, como sempre estiveram, até que, quando precisamos deles, reparamos que eles não estão mais. Por alguns poucos minutos nos iludimos pensando tê-los deixado em outro lugar, que os encontraremos em pouco tempo, próximos ao local onde deveriam estar. Mas, na maioria das vezes, isso não acontece. O tempo passa, e a pergunta permanece: “Cadê?”
Não é possível que o descuido seja o causador de tudo isso. Até porque, até mesmo as pessoas mais organizadas passam por esse tipo de situação. Existem casos de objetos que caem ao chão, rolam para debaixo da cama ou entram atrás de uma cômoda que não é movida de lugar há bastante tempo. Contudo, alguns deles simplesmente somem. Sim, somem, evaporam, viram fumaça: essa é a única explicação plausível. Não, ninguém pegou, roubou ou furtou. Talvez o objeto tenha cansado de existir e, como num passe de mágica, tenha deixado de ser aquilo que era antes. Largou a profissão, procurou novos rumos.
Não os julgo, até porque, convenhamos, não deve ser bacana ser um fone de ouvido, entrando em contato todo dia com as orelhas das pessoas. Um controle remoto, frequentemente apertado enquanto as pessoas decidem qual canal irão assistir. Uma camisa que não é mais usada e, quando finalmente resolvem procurar por ela, ela não está mais lá.
No fundo, no fundo, eles sabem que nós podemos nos virar sem eles, encontrar outros que tenham a mesma função ou que sejam até melhores. Por isso, eles somem. Buscando um refúgio, uma nova utilidade para si.
Ou talvez eles só tenham caído atrás do sofá mesmo.