Desafios na retomada das aulas presenciais

A retomada das aulas presenciais será um desafio a ser enfrentado pelas escolas neste ano.

Com 69% da população brasileira imunizada com duas doses ou dose única e com as crianças sendo vacinadas, 18 estados e o Distrito Federal deverão voltar com aulas presenciais em suas redes. No entanto, diante da variante Ômicron estar indicando aumento nas contaminações, poderá ser redefinida esta decisão, alegam os gestores educacionais.

Com as aulas presenciais neste momento de aumento da circulação do vírus as escolas deverão adotar protocolos rígidos para evitar que seus alunos sejam contaminados. Por outro lado, as famílias deverão ser cautelosas e se ocorrer mínima suspeita de contaminação deverão informar a direção da escola e manter os protocolos sanitários em seus lares.

Em São Paulo, com 78,89% da população imunizada, o governo deverá solicitar a comprovação da vacinação sem, evidentemente, impedir a frequência daqueles que não foram vacinados. Porém, as escolas deverão comunicar o Conselho Tutelar sobre crianças não vacinadas. Todo ano no ato da matrícula os pais ou responsáveis devem apresentar a carteirinha da vacinação. Neste ano não será diferente, pois de acordo com o ECA-Estatuto da Criança e Adolescente “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”, § 1º do artigo 14 da Lei nº 8.069/1990 e caso o responsável pela criança não providenciar tal vacinação deverá responder junto as autoridades competentes.

O retorno às aulas vem sendo planejado, considerando-se as perdas educacionais nesse período sem aulas presenciais. Estudos indicam que o aproveitamento foi de apenas 28%, o que cria uma lacuna de aprendizagem na educação básica, praticamente irrecuperável para essa geração.

Evidentemente, o tempo não volta, mas com o comprometimento dos gestores educacionais, muito poderá ser feito.

Primeiro, no meu entendimento, não há que se pensar em recuperação, haja visto que não é o caso. Esses alunos não tiveram oportunidade de acesso a tais conhecimentos, portanto não se trata de recuperar, mas de apresentar de forma adequada pela primeira vez tais conhecimentos. Justifico esse meu posicionamento, pois o aluno na recuperação tradicional teve oportunidade e, por algum motivo que não vem ao caso, não obteve o mínimo desejado.

Se o tempo não volta, há que se acrescentar mais tempo de permanência nas escolas e, ainda, reinventar a prática pedagógica visando otimizar todo o tempo com o aluno de forma diferenciada, daqui para frente.

A escola, tradicionalmente, faz seus agrupamentos por faixa etária. A criança fica um ano letivo correspondente a sua idade. Por exemplo, com 6 anos a criança deve estar no 1º ano; com 7 anos de estar no 2º ano e assim por diante. Com a defasagem de aprendizagem constatada diante do fechamento das escolas para as aulas presenciais, essas crianças obtiveram evoluções bem abaixo das obtidas no ano letivo tradicional com aulas presenciais, mas entre elas há aquelas que evoluíram um pouco mais do que outras. Ou seja, há que se planejar uma avaliação diagnóstica, as conhecidas sondagens, para realizar os agrupamentos o mais homogêneo possível. E depois, novas sondagens deverão constatar evoluções de aproveitamentos periodicamente e, se necessário, reagrupar para garantir a homogeneidade das turmas.

Esclarecendo melhor, penso que diante dessa situação, há que se acrescentar também um critério de etapa de aprendizagem em cada ano escolar. Feita a sondagem do estágio de evolução da aprendizagem de cada criança dentro de sua faixa etária, deve-se cuidar para que as turmas sejam homogêneas pela faixa etária e, também, a sua a etapa de aprendizagem. Evidentemente o trabalho pedagógico em seu planejamento deve ser muito mais flexível com alteração periódica de remanejo das turmas diante das etapas de aprendizagens vencidas. Até então, os alunos são realocados para outra turma somente no ano letivo seguinte.

Aqui, se for o caso, a cada etapa vencida pode ser realocado no mesmo ano escolar de acordo com a etapa pedagógica que superou. Com isso, fica reconhecido o momento de evolução do aluno em sua turma. Essa criança não precisa esperar os outros coleguinhas atingirem o que ele já conseguiu e a professora não precisa duplicar ou até triplicar suas estratégias em turmas heterogêneas, pois seu agrupamento estará mais uniforme e avançando muito mais rápido. Ganha-se tempo ao preservar a autoestima das crianças.

Reinventar a prática de ensinar e de aprender significa reinventar a escola, oferecendo para essa geração a oportunidade de superação que a pandemia pelo coronavírus lhes tirou.

O verdadeiro educador se desdobrará para que seus alunos possam evoluir da melhor forma possível.

 

 

Essio Minozzi Júnior é professor de Matemática e pedagogo. Pós-Graduado em Gestão Educacional – UNICAMP; Secretário da Educação de Mairiporã (1997-2000) e (2017-2018), Vereador de Mairiporã (2009-2020)