Escrito de forma contundente, o Correio publica neste espaço um editorial veiculado pelo jornal Comercio do Jahu, da semana passada, que reflete o atual momento vivido pela política e o uso das redes sociais.
”A proximidade da campanha eleitoral inflama o debate político em todas suas manifestações possíveis. Se há 20 anos as discussões se davam em praças, cafés e no núcleo familiar, agora as manifestações também militam nas redes sociais. O que poderia ser um fértil e democrático território de participação cívica, na maioria das vezes se transfigura em um cenário raivoso de que parece se sobressair a pior face da irracionalidade humana.
Na contramão deste caldeirão efervescente, a legislação eleitoral regra pouco o que sai na rede. A propaganda veiculada pela internet é praticamente livre, contanto que gratuita. Não há qualquer previsão legal que possa contemplar os asseclas de plantão, de qualquer lado político, que são motivados a desconstruir a imagem de concorrentes até os limites da perversidade.
É natural que os ânimos estejam desestimulados em razão do mundo político cada vez menos alentador. A tendência é a de que as pessoas se relacionem de maneira supérflua com a vida eleitoral, por causa da aparente pasmaceira perpetuada por parte dos agentes públicos.
Também é importante salientar que a internet abriu caminho para que os cidadãos busquem informações, denunciem irregularidades e formem suas opiniões a partir de um prisma mais diverso de posicionamentos.
O que ainda não se conseguiu explicar é porque, ao avançar para este território, os interlocutores se tornam tão agressivos. Não é só a certeza da impunidade.
Já outro componente de natureza simbólica: a rede social tem uma configuração aparentemente anárquica, sobretudo para quem nasceu na geração analógica.
Um crime cometido na “vida real” está sujeito a sanções reais: multa, processo, prisão. Um crime cometido na seara virtual também possui essas consequências, mas o grau de dispersão do conteúdo e a quantidade de pessoas que endossam o comportamento criminoso encorajam os mais desavidos.
A internet não dispõe de uma estrutura rígida da relação crime-castigo, como possui o trânsito, por exemplo. Em tempos de eleição, em que as predileções pessoais tendem a se aflorar, as páginas das redes sociais se transfiguram em um desagradável campo de batalha.
No compasso com que se cobra mais maturidade dos candidatos, de quem se espera comedimento na criação das promessas, também é desejável que os eleitores se comportem. Posicionamentos arredios são esperados e defensáveis, mas a falta de respeito, definitivamente, não se enquadra nesta expectativa.
Ao contrário do que se costuma propagar, a internet não é uma ferramenta totalmente disseminada. Metade dos habitantes do globo está conectada. A outra metade vai iniciar sua alfabetização neste sistema de códigos e linguagens. Deve demorar para que este terreno fique minimamente civilizado – mas, em nome da convivência social, seria prudente que cada usuário racionalizasse mais antes de cada postagem. Além do “alvo” atingido, o internauta também acerta seus familiares, que muitas vezes não têm de passar pelas mesmas agruras a que as figuras públicas se sujeitam.
Tudo indica que a campanha deste ano marcará um novo ciclo de disputas, pelo menos no que diz respeito aos gastos exagerados. Pudera também ser marcada por mais equilíbrio e sobriedade entre os principais interessados: os eleitores.