Culpa

Se pararmos para pensar, nossa vida é rodeada de um sentimento, às vezes grande, às vezes pequeno, mas que sempre está lá. Aquele sentimento que se assemelha ao zumbido de um mosquito aos nossos ouvidos, incômodo e perceptível. Aquele tipo de coisa que, por mais que a gente tente, não consegue ignorar: a culpa.
A culpa não está só naquele arrependimento de quando sabemos que fizemos algo errado. A culpa vem em qualquer tipo de decisão. Afinal, se você escolheu tal coisa, significa que deixou de escolher outra. A culpa vem quando exageramos em algo ou quando fazemos pouco e queríamos fazer mais. Quando falamos impropriedades, ou quando a deixamos de falar e que na verdade queríamos falar.
Não importa a situação, ela sempre está ali, em algum lugar, pronta para nos fazer senti-la. E, por mais que não a vejamos em sua forma natural, não deixa de vir travestida de diversas maneiras. Sabe aquela sensação de “poderia ter feito mais”, “poderia ter feito melhor”? É obra da culpa.
Devo admitir que nem sempre ela está errada. Algumas vezes, poderíamos sim ter nos esforçado mais para fazer diferente, ter evitado que tal coisa acontecesse. Mas, e então? A máquina que nos teletransporta ao passado ainda não foi inventada e conviver com ela para sempre não é das opções mais saudáveis.
Portanto, qual é a melhor maneira de agir com aquilo do qual não podemos nos separar? Quem fala que apenas ignora a culpa, ou que não a sente, está, no mínimo, fingindo.
Assim como nós, tudo que a culpa quer é ser aceita. Por que transformá-la em uma inimiga? Por que não reconhecer que sim, ela pode até estar certa? Quando isso acontece, tudo se torna mais fácil. A culpa deixa de ser um elemento do passado, um “quê poderia ser” para se tornar uma dica, um conselho para o futuro. Agora, nós já sabemos que, da próxima vez, podemos fazer diferente. Fazer melhor. E sem culpa.