Cronos e Kairós: Duas Perspectivas

‘O tempo é uma extensão da alma’ (Santo Agostinho)

O tempo sempre foi uma preocupação central da humanidade. Na Grécia Antiga, os filósofos distinguiam dois conceitos fundamentais: Cronos e Kairós. Enquanto Cronos representa o tempo cronológico e linear, medido pelos ponteiros do relógio e pela passagem dos dias, kairós refere-se ao tempo qualitativo, aquele momento oportuno e significativo em que algo relevante acontece. Essa dualidade permanece mais atual do que nunca em nossa era, marcada pela velocidade e pela busca incessante por produtividade.

Nos dias de hoje, a gestão do tempo parece ser dominada pelo domínio de cronos. A sociedade valoriza a eficiência, os prazos e o cumprimento rigoroso de agendas. Vivemos correndo contra o relógio, muitas vezes ignorando os momentos que realmente dão sentido à vida. Isso reflete o pensamento do filósofo alemão Martin Heidegger, que alertou: “A essência do homem está em sua temporalidade.” Ou seja, o modo como vivemos o tempo revela quem somos.

Por outro lado, kairós nos convida a desacelerar e a valorizar os momentos únicos que não podem ser previstos ou controlados. É o tempo de qualidade, em que estamos plenamente presentes e abertos ao que acontece ao nosso redor. Um jantar em família, uma conversa profunda ou até mesmo o simples ato de contemplar um pôr do sol são exemplos de como kairós pode ser resgatado em nossas vidas.

No contexto atual, em que as tecnologias nos mantêm constantemente conectados e ocupados, é crucial encontrarmos um equilíbrio entre esses dois tempos. Precisamos cumprir nossas obrigações dentro do cronos, mas também criar espaço para os momentos de kairós. Isso significa, muitas vezes, desligar os dispositivos, pausar a correria e nos permitir viver o presente.

Reflexão – Equilibrar o tempo dividindo nossa régua interna das 24 horas em: Deus, família, trabalho, estudo, lazer e caridade, desligar os dispositivos e ligar nossa alma, conectar nosso eu interior, com a natureza, uma igreja um templo, um lugar que você goste, algo que religue você e sua essência, tente, faça o teste com certeza vai valer a pena.

Como dizia o filósofo grego Sócrates: “A vida não examinada não vale a pena ser vivida.” Ao refletirmos sobre como gerimos nosso tempo, podemos redescobrir o valor de uma existência mais significativa, onde cronos e kairós coexistam em harmonia. Afinal, o verdadeiro desafio não é ter mais tempo, mas sim usá-lo com sabedoria.

Como diz Byung-Chul Han em A Sociedade do Cansaço (2010), “A pressa destrói o tempo.”

Raphael Blanes é Servidor Público Municipal, formado em Gestão em Saúde Pública, Técnico em Vigilância em Saúde com ênfase no Combate às Endemias, especialista em Gestão Hospitalar, graduando em Filosofia e Psicologia. Instagram: @raphaelblanes  Email: blanes.med@gmail.com.