Mais um ano sem a festa popular mais esperada em nosso país. Com o clima quente, bate aquela saudade de outros carnavais. Seria tão legal que nessa semana estivéssemos atentos ao cronograma de horários dos blocos de rua, vendo as chamadas na TV anunciarem os desfiles e os trios do norte e nordeste do país. Fatos que trazem alguma nostalgia e boas lembranças.
A pandemia ainda nos impede algumas coisas e adiou aquele clima carnavalesco. A data chegou, mas a festa ficou guardada para outro momento.
O período de um ano é um ciclo prazeroso em que a gente vai saboreando a passagem do tempo com seus acontecimentos. Parece que em dois anos tudo ficou meio esquisito. Não há mais aquela certeza de nada. Ao menos o pavor está desaparecendo e a fé aumenta na crença pela normalidade.
Lembro dos antigos carnavais em Mairiporã ouvindo o som da matinê do Esporte Clube. A espuma vinda do palco e debaixo da tenda na rua da feira. Sem contar os blocos e suas batucadas e o encontro com a turma de tantas tribos. Os filhos no colo dos pais ou dos avós, os casais de namorados e as famílias se confraternizando sem pressa. A tarde podia cair e o sol baixar, afinal: a festa ia até a quarta de cinzas. Nem parece, mas é fevereiro!
Tenho a sensação de que estamos finalizando um ciclo. Parece que o período pandêmico é como um sonho, para tantos um pesadelo, mas que vamos devagarzinho despertando. Como uma planta que cresce em meio a pequenas fendas no concreto das grandes cidades, a nossa fé vai renascendo como se um filete de raio do sol invadisse um quarto escuro no início de uma manhã e que nesse quarto, um homem doente e triste, voltasse a acreditar na cura.
Um pouco de poesia para representar essa ansiedade que bate na gente. Ânsia do progresso, de dias melhores e das grandes vitórias. Como a canção de Guilherme Arantes: “Amanhã será um lindo dia da mais louca alegria que se possa imaginar”. Tomara mesmo que redobrada a força, essa esperança possa vingar e diante de nós, o futuro se descortine promissor para as famílias cujas lágrimas molharam a terra pelas perdas, para tantos sem direito a despedida.
Sim, é carnaval e todo ano há de ser. Ali logo em frente, como em outros, deixará saudade na quarta pela manhã.
Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb