Conceitos ultrapassados

Muitas podem ser as explicações para a queda no número de católicos em todo o mundo. A religião comandada por Roma resiste a enxergar as mudanças da sociedade como um todo. Daí o crescimento vertiginoso de outras religiões.
Um bom exemplo disso é a fala absurda do presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor de Oliveira, ao comentar sobre o aborto legal autorizado pela Justiça em uma menina de dez anos, estuprada pelo tio, em que afirma que a interrupção legal da gravidez feita em uma criança de 10 anos, vítima de estupro, é um “crime hediondo” e disse que a “violência do aborto não se explica”. E concluiu: ‘A violência sexual é terrível, mas a violência do aborto não se explica’.
Para líderes da Igreja Católica, os dogmas são imutáveis, ou seja, são indiscutíveis. É justamente essa certeza de que o catolicismo é infalível, que o tem levado ao descrédito. Não se viu, nos últimos anos, nenhuma ênfase de religiosos católicos brasileiros acerca dos crimes (também hediondos e que podem ser classificados como estupros) que padres cometeram ao abusar sexualmente de meninos.
Essa contradição é que não se pode mais aceitar. No caso desta semana, como ficaria uma criança de 10 anos sendo mãe? A Igreja, como feito pelo presidente da CNBB, fala sobre ‘crime hediondo’ interromper a gravidez da menina. Mas não pode imaginar que vida teria essa vítima, caso se tornasse, de fato, mãe aos 10 anos. O caso em tela, é apenas um dos muitos que ocorrem diariamente.
A própria imprensa noticiou esta semana, dezenas de casos de estupro de meninas entre 9 a 13 anos, e não se viu a igreja católica incomodada com isso, ou vir a público se manifestar. Evidentemente que casos que ganham a mídia, são um prato cheio para expor a retórica ultrapassada da Igreja Católica.
Não discuto se a religião A ou B é certa ou não. Se uma é melhor que a outra. O que é condenável, é sustentar posicionamentos que não cabem mais nos dias de hoje.
Voltando ao início, é por exemplos como o do presidente da CNBB, dentre outros tantos, que a Igreja Católica experimenta turbulências e perda de fieis.

Osório Mendes é advogado militante na Comarca, foi vereador e presidente da Câmara na gestão 1983/1988