Chuva

Odeio o barulho da chuva. Mais do que não gostar da chuva em si, não gosto do barulho que ela faz. Quando começa a chover, é automático: fecho portas e janelas para abafar o som. Inconvencional, alguns diriam. Tem quem goste do barulho da chuva, tem quem diga que ele ajuda a dormir. Eu não gosto, e não lembro de já ter gostado.
Odeio quando chove e eu estou na rua. Não dá preguiça de ser obrigado a abrir o guarda-chuva para andar daqui até ali, e depois ter que lidar com o objeto molhado, pingando uma água que não vai secar tão cedo? Às vezes, se a chuva é fina e a distância é curta, prefiro andar sem guarda-chuva mesmo.
Odeio as gotas de chuva que grudam no óculos. Aqueles reflexos que atrapalham a visão, que impedem de enxergar. Secar na roupa não adianta, não é como se a lente voltasse à limpidez que tinha antes de ser molhada.
Odeio aquela força da chuva que dá medo. Odeio aquela leveza da garoa que parece existir apenas para incomodar, levemente. Ainda assim, não odeio a chuva. Ela é necessária. Não queria que ela deixasse de existir e nem poderia viver sem ela – ninguém poderia. Antes que ela se faça presente para que eu a odeie, do que sua ausência seca.