Nem sempre o mundo é doce. Às vezes a vida dói em lugares que ninguém vê, o silêncio pesa, o tempo se arrasta e a alma pede um abrigo, mesmo que temporário. E é curioso como, às vezes, esse abrigo vem em forma de algo tão pequeno quanto um quadradinho de chocolate, que faz tudo parecer um pouco mais leve. Sim, chocolate. Aquela simplicidade que derrete na boca e, por um instante, parece acalmar o que o coração ainda não conseguiu dizer… Cansaços que não aparecem no rosto, tristezas discretas, vontades que a gente guarda para não atrapalhar.
Chocolate não resolve a vida, não dissipa mágoas, mas tem o estranho poder de suavizar a beira do abismo – aquele entre o agora e o que ainda não sabemos como será.
Não é sobre o gosto apenas. Talvez seja o açúcar. Talvez o cacau. Ou talvez seja o afeto que ele carrega nas entrelinhas e sobre o que ele desperta. Chocolate tem esse dom raro de abrir pequenas janelas dentro de nós, memórias, sensações, uma certa paz breve que ajuda a continuar.
Tenho para mim que o chocolate, mais do que o sabor, é presença. Está nas festas, nos rituais, nos abraços silenciosos que não chegaram em forma de braços, mas vieram embalados em papel dourado. É um presente que a gente também se dá quando precisa de coragem, quando merece um carinho ou só quando quer lembrar que ainda sente.
Chocolate é também símbolo, associado a celebração, pedidos de desculpa, em esperas de hospital, em caixas de surpresas e reencontros. É um gesto de cuidado, muitas vezes silencioso, que diz “eu pensei em você” ou “cuide de você”. É um lembrete de que a vida também é feita de pequenos atos de ternura. Ele acompanha o que é humano demais para ser explicado.
Quantas vezes a gente se sentou no sofá, no fim de um dia exausto, e escolheu não pensar, só sentir aquele gosto conhecido que ocupa o vazio? Quantas vezes o chocolate não foi exatamente o que salvou um domingo cinza, uma tarde sem graça, uma saudade que doía mais do que deveria?
Há quem prefira o chocolate ao leite, com sua delicadeza simples. Outros preferem o meio amargo, mais complexo, mais honesto. Isso também diz sobre a vida. Não existe uma maneira certa de sentir, de seguir, de ser. Cada um encontra seu próprio caminho entre a doçura e a intensidade. Ademais, não podemos esquecer que há curas que não vêm dos livros. Vêm de rituais silenciosos: acender uma vela, fazer um café, abrir um chocolate. Sentar-se e estar ali. Inteira. Mesmo que partida.
Talvez o chocolate tenha essa magia, a de não pedir explicações, não julgar se estamos exagerando, se estamos tristes “sem motivo”, se estamos tentando preencher um espaço que nem sabemos de onde veio. Ele apenas se oferece, inteiro, doce ou amargo, mas sempre honesto. Além disso, chocolate também é pausa. É intervalo entre um sorriso e uma lágrima, uma alegria e uma tristeza, um carinho e uma falta.
Chocolate é equilíbrio – ou desequilíbrio, quando beira ao vício. Mas digo equilíbrio no sentido de harmonia, dualidade, já que carrega consigo essa mistura estranha de felicidades e dores, perdas e recompensas, dias difíceis que terminam em pequenos alívios.
Então, da próxima vez que o mundo parecer grande demais, sem culpa, coma seu chocolatinho com prazer. Talvez seja só um jeito doce de dizer a si mesma: vai passar. E, até lá, você merece um pedacinho de leveza. E eu, como todos já sabem, prefiro viver assim, sei que sou mais feliz desta forma… me lembrando que por mais amargo que o dia pareça, sempre há um pouco de doçura à espreita, seja num gesto ou num chocolate. E a você, caro leitor, desejo que mesmo nos dias difíceis, você encontre a doçura também!
Drielli Paola – @drielli_paola. Servidora Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo. Bacharel em Direito, com pós-graduação e extensões universitárias na área jurídica. Entusiasta de psicologia, história, espiritualidade e causa animal. Apaixonada pela escrita.