Chegou a primavera

Eu, particularmente, não gosto do frio. Conto os dias por esses meses em que o sol desde cedo lança seus raios na varanda e dá para abrir as janelas e a porta para aquele mormaço que enche a gente de vontade de fazer qualquer coisa. De terminar qualquer coisa, lavar um tapete, o carro e a gaveta. Talvez sair dirigindo, visitar alguém que não vê há muito tempo.

O final de ano sempre foi a razão de bons motivos e boas lembranças. Para mim o Natal já vai começando na metade de setembro. Logo as luzes já começam a aparecer nas casas e esse ano vem a primeira noite sem minha mãe por aqui.

No ano passado celebramos com simplicidade, mas com muita alegria pelo milagre da vida. Dormimos cedo e no fundo ela já vinha se entregando e desejando novos renascimentos.

É primavera e a cidade está toda florida. São flores naturais que já floriram em outros tempos e tantas flores que estão florindo em Mairiporã pela primeira vez. O capricho nos jardins, até mesmo do cemitério está dando gosto de ver. Nossa terra, em qualquer estação, é um cartão postal por si só, mas começa a se preparar para esta etapa linda que começa no mês nove.

Lembro de Alberto Caeiro descrevendo o menino Jesus no poema: “num meio-dia de fim de primavera”, na oportunidade em que o menino roubou do céu três milagres, fazendo de um deles uma maneira de ser eternamente menino e poder viver por aqui descobrindo o valor das flores.

Também eu ando encontrando em outros jardins as razões humanas para as causas divinas. Então, que eu também quando morrer continue pequeno, para que Ele me leve para dentro de sua casa, pegando-me ao colo. Que meu ser cansado deitado ouça histórias e a alma brinque como em um sonho primaveril.

Que a minha primavera e a sua sejam como um texto de Fernando Pessoa: floresçam todos os anos fazendo de cada estação uma oportunidade para o novo que renasce.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de