Caso me encontre por aí

Procrastinação é a palavra do momento. Não me lembro de uma época, desde minha adolescência, de leituras na biblioteca da escola Hermelina que a gente discutisse tanto a importância do tempo e de como aproveitar o período de vida. A pressa das mensagens, a velocidade da tecnologia parece que causam um efeito psicológico interessante a ponto de que passamos a acreditar que o relógio anda mais rápido. Claro que isso não é verdade, posto que em relação as gerações principalmente do início do século passado, estamos vivendo mais. A medicina ortomolecular chegou para prolongar a nossa existência, mas a qualidade do que fazemos continua em nossas mãos.

Já contei que cheguei aos quarenta com uma vontade imensa de realizar uns sonhos.  A sensação se assemelha a um desespero de que vai passar a vida toda se eu ficar parado mais um ano. Ando meio alucinado e a mil por hora. A maturidade me faz sentir cada vez mais livre. A certeza de que minha mãe estava certa de que os amigos contamos nos dedos me impulsiona. Publicado o livro chegou o momento de iniciar o trabalho como palestrante. Já fiz inúmeras palestras no âmbito religioso e agora estou me profissionalizando no ramo da oratória em palestras. Interessante que eu nunca gostei de ir a palestras e acredito que por melhor que seja a fala, se for demorado ninguém gosta. Ainda bem que tenho encontrado boas formulas para que meu discurso seja atrativo e principalmente que possa deixar algo de bom no coração das pessoas.

A palavra sem dúvida tem sido a matéria prima da minha vida e a responsabilidade de dizer e a sabedoria de calar são um desafio continuo. Por vezes me arrependo de não ter ficado quieto quando a língua coça ou os dedos se atropelam no teclado. Da mesma maneira, diversas vezes fiquei em silêncio quando deveria ter me pronunciado, quando precisava ser firme. Hoje em dia procuro falar como procuro andar, isto é, cuidadoso e precavido para que os passos não tropecem e eu não rasgue os lábios em alguma guia a beira da rua escura, sem que tenha quem me socorra.

Se você leitor se deparar com um cartaz pela cidade ou em sua escola anunciando minha palestra, ficarei honrado se puder me ouvir na hora marcada e que essa hora que passaremos juntos possa ser importante dentro do tempo que você tem construído. Que a lembrança esteja dentre as felizes da sua semana ou do seu mês e que uma frase, apenas uma, possa ser como um farol que ilumine o seu caminho, caso me encontre ai.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb