Houve mesmo em 2024 um aumento da quantidade de acidentes aéreos, segundo o relatório Sipaer (Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). Ainda assim, o número é muito semelhante aos acidentes registrados no ano de 2015. Há dez anos não havia a percepção que temos hoje este aumento, que atualmente se dá por estarmos muito mais expostos a notícias. Qualquer fato atual encontrará alguém com um celular registrando e quase imediatamente postando até mesmo fatos corriqueiros na aviação comercial, como arremetidas, são noticiados como se representassem uma quase tragédia.
Levando em conta as estatísticas, com todo respeito as vidas perdidas, o que jamais podemos aceitar que ocorram ou banalizar a dor alheia, mas na frieza dos números, os acidentes do último ano, quando se trata de transporte aéreo, continuam sendo de número baixo, considerando os milhares de pousos e decolagens mundo afora todos os dias.
Nenhum acidente é aceitável e a meta deve ser sempre que não tenhamos mais que ver cenas terríveis como aquela na zona oeste da capital na última semana. Aliás, comento aqui sobre os números do ano passado, mas este já começou acelerado na discussão da segurança aérea.
Parece que toda semana tem ocorrido algo na aviação geral, por exemplo. E não há ansiedade que suporte o tempo que leva uma investigação de acidente aéreo. Normalmente já queremos respostas e culpados, quando o quebra cabeça é enorme para se juntar as peças e determinar causas para que um avião saia da rota. Se o leitor tiver curiosidade de ler a complexidade de um relatório desses, facilmente encontrará na página do Cenipa (Centro de investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
Eu comecei pelo relatório do acidente dos Mamonas Assassinas e nunca mais parei. Além disso, fui picado pelo ‘bichinho’ da aviação, que se tornou uma das maiores paixões da minha vida.
Quando as causas chegarem a conhecimento público, boa parte dessa galera que gosta de ver o “circo pegando fogo”, não vai estar falando mais do assunto. A matemática de pensar que o número de desastres é maior por existirem muito mais aeronaves voando por aí, é muito equivocada.
Algumas poucas décadas no passado, havia bem menos aviões e mesmo assim se via muito mais fatalidades. Os regulamentos são rigorosos, principalmente na aviação comercial, mas não se pode esquecer que o ser humano é limitado e os fatores humanos são preponderantes para as operações diárias pelo mundo todo.
O que mais lamento é ler tanta bobagem, escrita e dita em favor de engajamento, não importa do tamanho da asneira. Ingrediente que gera pânico em tanta gente. Li muito jornalista especular de maneira irresponsável e insensível diante da dor dos passageiros do ônibus atingido pela aeronave que realizou o pouso forçado em plena Avenida Marquês de São Vicente. A repórter apontando o microfone ao motorista e fazendo a um questionamento imbecil, quanto tem a oportunidade de em rede nacional utilizar da ferramenta da imprensa para noticiar e não utilizar de sensacionalismo. Se o que vivemos é um caos, o tempo dirá.
Chegar de um ponto ao outro em uma máquina tão magnífica, continua sendo um privilégio maravilhoso que a inteligência da raça humana foi capaz de produzir.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”