Comprei um caderninho novo para me organizar no ano que vem; ano que, afinal, promete ser intenso e com muita coisa a fazer. O caderninho não tem linhas. Isso muito me incomodou: como escrever sem linhas? Mesmo Deus, que escreve certo por linhas tortas, se utiliza de linhas. No lugar de linhas, pontinhos. Posso tentar fazer com que os pontinhos simulem linhas, mas não era para elas estarem ali?
Também não tem capa. Aliás, tem capa, mas é lisa. Nenhum desenho, figura. Nada que o identifique. Veio com alguns adesivos para que eu mesmo monte a figura da capa. Montei do jeito que achei que ficaria mais descontraído. Logo que terminei, pensei: “Deveria ter feito de outro jeito”. Agora não tinha mais como voltar atrás, os adesivos já estavam colados.
Fiquei em dúvida se deveria passar algumas anotações deste ano para o caderninho do ano que vem. Não seria algum tipo de violação, usá-las para propósitos do presente? Deixaria o caderninho de ser o caderninho do ano que vem, virando o caderninho deste ano mesmo? Eu não queria isso. Mesmo assim, anotei. Anotei porque o passado não é algo que simplesmente jogamos fora. O que aprendemos no passado pode e deve ser usado no futuro, e é exatamente o caso do caderninho. Para construir o ano que vem, vou precisar do que passei este ano, e no outro, e no outro… Sem linhas.
O caderninho continua sem linhas e não há ponto que substitua uma linha por completo. Não me desespero. Afinal, não sei o que vai acontecer ano que vem. Incerto o futuro. Quem sabe eu nem precise das linhas tanto assim.