Por vezes senti na pele o peso do coronelismo que juro, ainda resiste nas veias de muita gente em nossa vila. Esses que ostentam o brasão da família, embora as contas bancárias já não sejam há muito tempo como outrora. Pelo sobrenome ou por herança de alguma propriedade, compram embates falando com autoritarismo e suposta superioridade. A mudança choca e quase sempre não estamos preparados. Oculto aqui o pronome da primeira pessoa do plural, mas não a minha coparticipação na responsabilidade. Tantas vezes as mudanças me assustaram.
As gerações se esbarram se não há bom senso e bom gosto. Então, aproveitando os termos, quero remeter a reflexão a Questão Coimbrã. Não me cabe aqui alguma audácia a ponto de me comparar a Antero de Quental, mas quero mesmo é falar deste embate, já que me identifico. Se não sabe do que falo, perdeu as aulas de literatura do segundo ano do ensino médio, enquanto estudamos o realismo.
Seria interessante resolver as contendas como no tempo em que duelos de espadas dissolviam as diferenças, mas ainda enxergo o mesmo romantismo decadente na sociedade dos dias atuais. Há quem se agarre nas suas próprias convicções, sem qualquer flexibilidade para o novo, ou pior, que a soberba o faz se pensar melhor.
Não quero dizer moço ou adulto. Não se trata de faixa etária, mas de incapacidade de compreender que o tempo passa e que tudo muda e está tudo certo. Ninguém pode estar enraizado em uma posição ou pensar que é insubstituível.
Não ando afeito às indiretas e estas palavras não o são, mas empresto aqui o texto original para esclarecer que não falar disso poderia significar que as circunstâncias do meu atual modo de vida, parecessem suficientes para me impor silêncio, ou modesto, ou desdenhoso, mas, todavia, tenho que falar por fortes motivos, pois me obriga a conveniência de poder falar livremente, sem vaidades e ambições, sabendo bem quem sou. Tenho, eu, boca para dizer e rico vocabulário para argumentar. E é esta força desconhecida que me permite erguer a voz pelo que julgo verdade e erguer a mão pelo que acredito ser justiça.
Não é esta uma carta, mas se fosse eu diria que um ataque pessoal é apenas um pretexto de quem entende fazer por si o seu caminho, sem pedir licença aos mestres, mas consultando apenas sua consciência. Isto é, esqueceu-se de que conhecimento é passado de geração em geração e que todos ao seu tempo seremos aprendentes e ensinantes.
Quando me ofende, não posso senão dar-lhe os pêsames por tão triste papel. Mas se eu, como homem, desprezo e esqueço, como comunicador é que não posso calar-me; porque atacar a independência do pensamento, a liberdade dos espíritos, é não só ofender o que há de mais santo nos indivíduos, mas é ainda levantar mão roubadora contra o patrimônio sagrado da humanidade – o futuro. – É secar as nascentes da fonte aonde as gerações futuras têm de beber. É cortar a raiz da árvore a que os vindoiros tinham de pedir sombra e sossego. E atrofiar as ideias e os sentimentos das cabeças e dos corações que têm de vir.
Nossa bela língua portuguesa nos une hoje, pois outros Antônios Felicianos de Castilhos se erguem e é preciso continuar reivindicando a condição da grandeza, da beleza e da bondade. A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança.
Há quem precise menos cinquenta anos de idade, ou então mais cinquenta de reflexão.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”