Banco Mundial: Pandemia expõe a desigualdade socioeconômica nos resultados da educação

A educação na América Latina e Caribe enfrentam a pior crise na área, indicou o relatório do Banco Mundial. No Brasil são 6,1 milhões de crianças até 10 anos que apresentam dificuldades na leitura e escrita.

Com a maiorias das 179.533 escolas brasileiras fechadas inevitável diminuir o nível de proficiência dos estudantes. Antes 50% dos alunos nessa faixa etária não estavam preparados para continuar os estudos. Agora 71% dos alunos poderão ser afetados e os estudantes de renda mais baixa serão os mais afetados, podendo ter aumentando em 12% a desigualdade socioeconômica nos resultados da educação, conforme indica o relatório da entidade.

Para essa geração de estudantes as consequências da nova realidade educacional serão prejudiciais e ficarão evidentes a médio e longo prazo, notadamente, os mais vulneráveis terão perdas maiores.

Com a desigualdade social diretamente proporcional à desigualdade digital, os governantes e os seus gestores educacionais deverão começar a planejar a recuperação do tempo perdido dessa geração desde já, para implementação imediatamente após pandemia ou do retorno as aulas.

Diante da adversidade surgem as oportunidades. No Brasil, o Censo Escolar de 2020 registra que apenas 80% das escolas contam com internet e dessas 66%, 119.105 escolas, tem banda larga. Na Prova Brasil de 2019, dos 3.022.915 estudantes matriculados nos 5º anos apenas 57% com nível de proficiência em leitura e interpretação de texto e, em matemática, apenas 47% deles.

São dois exemplos que evidenciam pontos vulneráveis na oferta de ensino com qualidade no Brasil. Investir em tecnologia educacional e no aprimoramento do processo de ensino aprendizagem deverão caminhar juntos daqui em diante como prioridade.

Nesse momento pandêmico revela-se a desigualdade no acesso à internet que impactam milhares de alunos em todos os estados brasileiros. Para minimamente oferecer continuidade do ensino muitos gestores improvisaram buscando alternativas diante dessa realidade, antes invisível.

Em Mairiporã, por exemplo, desde o fechamento das escolas foi adotada uma plataforma possibilitando acesso as atividades elaboradas e propostas pelas escolas para atender os alunos com acesso à internet. Para os outros, os responsáveis retiravam as mesmas atividades impressas semanalmente nas unidades escolares.

Desta forma, com algumas outras possibilidades, as redes de ensino buscaram lidar com a falta da insubstituível aula presencial, em especial, nos anos iniciais do ensino fundamental. Os pais e responsáveis por essas crianças estão se manifestando neste sentido durante esse período pandêmico.

Após superado o período e com o retorno das aulas presenciais a prioridade deverá ser a recuperação das perdas da aprendizagem dessa geração.

No planejamento de ações da recuperação esses acumulados de experiências podem ser avaliados pelos docentes, aqueles que estão na linha de frente do ensino no distanciamento escolar e vivenciam o cotidiano na sala de aula.

O desafio após pandemia requer competência, empenho e dedicação dos gestores educacionais e total respaldo do governante de plantão para recuperar a lacuna de aprendizagem do período. Aqui não cabe improvisações. Impossível fazer da mesma forma, continuar com as mesmas práticas e rotinas, quando o contexto se altera significativamente.

Para tanto, será inevitável adequar o orçamento da educação para dar conta do aumento do tempo de permanência dos alunos nas escolas, do apoio pedagógico efetivo e permanente aos docentes, das alterações nas rotinas das práticas do ensino-aprendizagem incorporando o uso da tecnologia e, fundamentalmente, a adequação da quantidade de alunos por professores que deverão realizar as readequações dos planos de ensino diante da avaliação do nível de proficiência dos seus alunos.

Governantes e seus gestores educacional devem oferecer as condições adequadas aos educadores da linha de frente nas escolas na recuperação. Com o objetivo claro de minimizar as desigualdades socioeconômica nos resultados de aprendizagem e digital na área educacional.

Com o comprometimento dos gestores educacionais e de todos os educadores envolvidos os nossos governantes precisam descer dos palanques e assumir posturas de estadista. Defender de verdade as ações de política pública educacional.

Não poderemos aceitar menos que a reposição do direito integral ao ensino que a pandemia surripiou dessa geração de crianças e jovens, possibilitando-lhes melhores condições em suas vidas.

 

Essio Minozzi Júnior é professor de Matemática e pedagogo. Pós-Graduado em Gestão Educacional – UNICAMP; Planejamento Estratégico Situacional – FUNDAP- Administração Pública-Gestão de Cidades UNINTER; Dirigente Regional de Ensino DE Caieiras (1995-96), Secretário da Educação de Mairiporã (1997-2000) e (2017-2018), Vereador de Mairiporã (2009-2020)