Babá de eleitor

Alguns segmentos da imprensa, com ares professorais, acreditam que o jornalismo pode e deve desempenhar o papel de auxiliar o eleitor a votar, escolher bem os candidatos e acompanhar seus representantes. Como também verificar quais projetos propõem e, no caso do município, se os vereadores são atuantes e se o prefeito cumpre as promessas que fez.
A parte que nos cabe, enquanto jornal, não é a de desempenhar esse papel. Jornal e outras mídias não são babás de eleitores, como não considera que é votando que a democracia se consolida e o cidadão aprende a escolher seus representantes.
Tomamos aqui a liberdade de publicar dois trechos do artigo do jornalista J. R. Guzzo, da revista Veja, sobre a questão ‘democracia e eleitor’. Abaixo, o que escreveu ele em artigo publicado na edição da semana retrasada.
“Os analistas políticos garantem que o regime democrático brasileiro está amadurecendo. Quanto mais eleições, melhor, porque é votando que “o povo aprende”. A solução para as deformações da democracia é “mais democracia”. O eleitorado “sempre acerta”. E por aí segue essa conversa, com explicação em cima de explicação, bobagem em cima de bobagem, enquanto a vida real vai ficando cada vez pior. Não ocorre a ninguém, entre os mestres, comunicadores e influencers que nos ensinam diariamente o que devemos pensar sobre os fatos políticos, que um fruto que está amadurecendo há 30 anos não pode resultar em nada que preste. Como poderia, depois de tanto tempo? A cada eleição, ao contrário da lenda, os eleitos ficam piores. Esse Congresso que está aí, no qual quase metade dos deputados e senadores tem algum tipo de problema com a Justiça, é o resultado das últimas eleições nacionais. De onde saiu a ideia de que as coisas vão melhorando à medida em que as eleições se sucedem? Do Poder Executivo, então, é melhor não falar nada. Da última vez que o povo soberano foi votar, em 2014, elegeu ninguém menos que Dilma Rousseff e Michel Temer, de uma vez só, para a Presidência da República. Está na cara, para quem não quer complicar as coisas, que o “povo” não aprendeu nada dos anos 80 para cá. Está na cara que o povo, ao contrário da fantasia intelectual, não apenas erra na hora de escolher; erra cada vez mais para pior. Não existe democracia quando os governos são escolhidos por um eleitorado que tem um dos piores níveis de educação do mundo – em grande parte é um povo incapaz de entender direito o que lê, as operações simples da matemática, ou as noções básicas do mundo em que vive. O que pode sair de bom disso aí? O cidadão precisa passar num exame para guiar uma motocicleta ou trabalhar num caixa de supermercado. Para tirar o título de eleitor, com o qual elege o presidente da República, não precisa de nada. Pode, aliás, ser analfabeto.”
A conclusão, caro leitor, é óbvia, como enfatizou o jornalista: o brasileiro vota mal e repete o erro na eleição seguinte. Depois de trinta anos votando, nada aprendeu. Os coleguinhas intelectuais da imprensa que nos perdoe, mas desempenhar papel de babá não é tarefa para imprensa séria.