Até o Papa criticou

A primavera chegou no segundo ano desse biênio maluco da nossa vida pandêmica. Trouxe para o vestuário as máscaras. Tão comuns no teatro. Como se diria no grego: “personas somos”. No caso do teatro, apenas uma forma de representar um papel, diferente da realidade.

O termo hipócrita era usado justamente por isso, para denotar alguém com eloquência, isto é, uma boa capacidade quanto à oratória. No entanto, o termo passou a ser usado para se referir a um indivíduo que tamanha incoerência quanto ao que diz e o que de fato faz, o torna mascarado. A vida tem mesmo se tornado um baile de máscaras.

Chegamos ao ponto do Papa Francisco afirmar no final do mês passado em sua audiência com os fiéis no Vaticano, que a presença da hipocrisia na Igreja Católica é “detestável”. Segundo o pontífice, esse tipo de comportamento é como “maquiar a alma” por “medo da verdade”. “É particularmente detestável a hipocrisia na Igreja e infelizmente existe hipocrisia na Igreja. Há muitos cristãos e ministros hipócritas”, disse o Papa.

De acordo com Jorge Bergoglio, “o hipócrita é uma pessoa que finge, lisonjeia e engana porque vive com uma máscara no rosto e não tem coragem de enfrentar a verdade. Por isso, não é capaz de amar verdadeiramente e limita-se a viver de egoísmo”. Fazendo uma saudação aos fiéis de língua portuguesa, Francisco declarou: “Vamos nos entregar à proteção da Virgem para que não haja entre nós nem em nossas comunidades a hipocrisia que coloca em perigo a união da Igreja”.

Claro que todos nós temos nossas incoerências. Somos educados para provar um cafezinho meio morno, agradecer e elogiar. Não agir assim é grande falta de etiqueta. No entanto, ando com medo de gente que mora dentro da igreja. Que recheia a vida de rituais e religiosidade, mas com nenhuma espiritualidade. Espiritualidade, essa sim, mais importante; acaba ficando em segundo plano.

Quando a coisa mais importante é ir ao templo, deixando de lado as necessidades do próximo, já vira egoísmo puro. Carolas e beatas irritaram até Jesus, que no seu tempo aqui na terra teve nenhuma paciência com os hipócritas. Eu também não tenho. Nem paciência e nem vontade de estar perto.

Prefiro me deixar acompanhar por quem sabe que erra e que se dói pelos outros, sem egoísmo.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb