Até o ENEM vira mimimi

Pensei que já havia visto desmandos suficientes na educação brasileira, mas essa da censura da prova do ENEM neste ano foi demais, extrapolou em muito as regras básicas de autonomia do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira1, órgão público federal responsável pela prova.

Anísio Spínola Teixeira, ícone nos anos 1930 na defesa do ensino público com requisitos de um ensino democrático: gratuito, laico e obrigatório, deve estar decepcionado com mais essa involução educacional diante da demonstração dessa intencionalidade do atual governo federal.

Vamos aos fatos. O seu ministro da educação, em dezembro de 2018, homologou a BNCC do Ensino Médio que contempla o ensino desses conhecimentos. Insensato vir combater as questões do ENEM 2021 que se propõe mensurar os conhecimentos socioeconômicos e sociopolíticos da história brasileira dos últimos 50 anos. Senhor presidente, foi o governo de vossa excelência que homologou o ensino de tais conhecimentos. Pretende censurar a história ou reinventá-la?

Para quem não sabe, na elaboração das provas do ENEM o INEP se utiliza de um banco de dados de questões elaboradas por professores escolhidos por edital. Que a prova é preparada e analisada dentro de um ambiente seguro, protegido em diversas etapas por detectores de metais e portas que só são abertas com a biometria dos profissionais autorizados numa sala toda cercada por câmaras, sem nenhum ponto cego, explicam os servidores que lá atuam. A censura foi aplicada em questões que envolvem contextos sociopolíticos ou socioeconômicos, em especial as da história dos últimos 50 anos no Brasil, alegou um dos profissionais envolvido na elabora da prova, conforme informações divulgadas no site da UOL.

A avaliação somente está mensurando tais conhecimentos dos candidatos ao curso superior, pois eles estão definidos na BNCC no conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica Brasileira.

Para tanto, senhor presidente, seria necessário refazer a BNCC – Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio – que foi debatida com a base educacional durante longo tempo e homologada pelo seu então Ministro da Educação, Rossieli Soares, em 14 de dezembro de 2018. Portanto, tais conhecimentos estão sendo tratados em salas de aula no cotidiano escolar com milhões de jovens no Ensino Médio. Então, inócua tal censura que apenas demonstra a qualidade da atual gestão federal e mais um mimimi.

Inacreditável, mas está noticiado e não foi contestado o fato do policial federal que adentrou no espaço seguro onde elabora-se a prova do ENEM, que por si só é um ato de interferência na autonomia dos responsáveis pela prova, e pediu para ver a prova. Como esse indivíduo adentrou no espaço seguro ainda é uma incógnita.

Outra ação intimatória foi a tentativa de inclusão de outros 22 novos nomes na lista de pessoas autorizadas a ter acesso à prova do ENEM 2021. Após reclamações dos servidores o presidente do INEP recuou.

Por isso, 37 profissionais pediram exoneração do cargo duas semanas antes da aplicação do ENEM 2021. Em tempo foi desmentida que a motivação desses profissionais visava gratificações financeiras. pt.wikipedia.org/wiki/Anísio Teixeira

 

Essio Minozzi Júnior é professor de Matemática e pedagogo. Pós-Graduado em Gestão Educacional – UNICAMP; Planejamento Estratégico Situacional – FUNDAP- Administração Pública-Gestão de Cidades UNINTER; Dirigente Regional de Ensino DE Caieiras (1995-96), Secretário da Educação de Mairiporã (1997-2000) e (2017-2018), Vereador de Mairiporã (2009-2020)