Asas para voar e motivos para voltar

O pai fundador da filosofia é Platão e mesmo que você possa não saber nada a respeito dele, com certeza já ouviu a expressão: amor platônico. Suas teses, que considerava justas, sempre ditas por meio do personagem Sócrates, tratavam do amor a partir do termo: “eros”. Raiz de tantas palavras em nosso idioma e que deu origem ao vocábulo ‘erótico’.

Com isso definiu amor e desejo como sendo a mesma coisa. De alguma forma o que se pretendie é mostrar que amamos aquilo ou aquele que desejamos. Tudo na mesma proporção e intensidade. Quanto mais desejamos mais amamos. Uma visão desse sentimento que atravessou séculos, mas que ainda gera em mim muitas reflexões, já que posso dizer que passei pela experiência de três tipos de amor.

A primeira foi do amor que fantasiei, talvez por encontrar prazer na leitura em tempos que não havia celular e que tinha tanto esmero no cheiro da biblioteca, na gramatura do papel e na satisfação de chegar até a última página. Eu era tão menino e a vida acontecia como o conto de Romeu e Julieta. Bem no começo era como se fosse durar para sempre. Não dava para enxergar o óbvio que se mostrava nos fatos. Era impossível notar tanta bobagem naquele momento, pois era tão inocente que seria incapaz de perceber que jamais a vida seria como nos contos. Destes episódios colho os frutos, bons e ruins. Escolhi certo e errado, mas quando deito a cabeça no travesseiro, sei exatamente o que faria ou não faria novamente.

Depois, já me achando maduro, vivi toda intensidade de um amor adulto, mas idealizado. Como não existe a pessoa ideal e sim a pessoa certa, tratei de me estrepar. Nessa fase, o mundo girava de ponta cabeça e geralmente tinha seus picos de alegria e lascívia, mas tudo fadado ao fundo do poço. Se Sócrates dizia que amor e desejo são a mesma coisa, pelo óbvio logo penso que se amor é desejo, o que é então desejo? Hoje vejo fácil que aquele desejo da segunda fase era apenas a falta. Ausência do que eu não tinha por ter me acostumado à mediocridade que vivia. Então passei a desejar o que não tinha. A equação estava completa: passei a amar o que desejava e desejava o que não tinha. Foi fácil confundir tudo e idealizar alguém que eu criei e que não existia. Amei o que idealizei e não amei a pessoa. Do outro lado a mesma coisa, mas com a pitada do interesse da utilidade enquanto me teve por perto, de modo que claro, quem sofreu fui eu.

Ainda vai ler sobre o amor por aqui, leitor, e não me importo de escrever mais na semana que vem e parecer clichê, mas quero é claro, falar da terceira fase: a atual. Momento da paz e da reciprocidade. Aquela sensação de se sentir seguro. A grande e inicial diferença dos outros dois casos é que essa não estabelece suas bases na imaginação nem na idealização. Chegou de surpresa, pronta, como se estivesse em casa. É como se fosse a primeira vez e não se trata de ser o primeiro relacionamento ou a primeira transa. Longe de ser a primeira vez que disse um eu te amo para alguém. O diferencial é sentir-se completo. Pela primeira vez não estava em busca de nada e de ninguém. A busca era por mim mesmo. Sem ter planos e simplesmente com vontade de ficar, fui ficando!

Estou convencido de que os melhores relacionamentos começam quando não se está à procura de nada. Nesse momento é que algo especial acontece. Sem segundas intenções e sem joguinhos. Os manuais jogados todos fora em nome da leveza que mora em ser inteiro e ser livre. Valeu a pena ter vindo até aqui para experimentar a inteireza de existir sem o peso da obrigação.

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”