Na minha infância toda vez que ouvia as cigarras ‘cantando’ minha nonna dizia “hoje vai chover” e sempre chovia. Lembro que isso sempre acontecia no fim da primavera e em todo o verão. Estranhamente no fim do mês de agosto, ainda no “inverno”, as cigarras estavam cantando o tempo todo, entretanto, nada de chuva. Temperaturas altas, sol forte, céu azul com poucas nuvens. Como aprendemos quando crianças nas escolas as estações do ano: primavera, verão, outono e inverno, no verão os dias ensolarados provocam a evaporação d’água criando as nuvens e em seguida as chuvas no fim da tarde.
Estamos no início da primavera e, estranhamente, com dias quentes, sol forte, como se fosse verão, mas quase sem chuvas, a não ser os temporais localizados alternando com umidade do ar muito baixa, mas com o som alto de cigarras. Bem escondidos pela vegetação, os machos das cigarras cantam sem parar para atrair as fêmeas.
Esses insetos podem ser encontrados em diferentes partes do planeta, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais. São insetos que se alimentam da seiva de plantas, possuindo um aparelho bucal adaptado para sugar a seiva dos vegetais.
Com o canto das cigarras, acreditava-se que as chuvas aconteceriam no fim de tarde, mas não vem acontecendo. Ficamos alguns dias com as cigarras cantando e aguardando aquela chuva de fim da primavera.
Como o canto é usado apenas durante a época reprodutiva, as cigarras só o emitem na fase adulta. Nos períodos dessa sinfonia animal, os machos se fixam no alto das plantas, geralmente ao amanhecer ou ao entardecer, e cantam incessantemente em busca de uma parceira.
Na verdade, é importante saber que somente os machos das cigarras que emitem zumbidos estridentes e são usados para atrair as fêmeas e acontece entre a primavera e o verão, período de acasalamento do inseto. Portanto, a mudança climática alterou o período de acasalamento das cigarras e as chuvas não estão neste novo contexto climático.
Associamos às mudanças climáticas às consequências ambientais como o aumento da temperatura do planeta, o aumento do nível do mar com o degelo das geleiras que podem afetar as áreas costeiras com inundações ou as tempestades de chuvas localizadas como recentemente afetou o Rio Grande do Sul, destruindo cidades, matando pessoas e causando prejuízos inimagináveis.
A mudança climática, entendida como sendo alterações provocadas nos padrões climáticos a longo prazo, em discussões no mundo todo, deve ter impactado o comportamento das cigarras.
Sabemos que os impactos das mudanças climáticas são significativos e afetam desde a nossa saúde até a produção de alimentos, bem como a nossa vida e a de outros seres vivos do planeta. As cigarras podem servir de exemplo e reflexão.
Essio Minozzi Jr. licenciado em Matemática e Pedagogia, Pós-Graduado em Gestão Educacional – UNICAMP e Ciências e Técnicas de Governo – FUNDAP, foi vereador e secretário da Educação de Mairiporã.