Arrogância é amiga da infelicidade

Tenho inúmeras experiências ruins na vida por ter convivido com pessoas arrogantes. Em quase todos os lugares em que estive, principalmente quando se trata de trabalho. Não nasci em berço de ouro, também não tive herança e posso contar nos dedos quem me recebeu com o olhar de acolhida. Quem chega em uma empresa para iniciar uma atividade, com certeza compreende sobre isso.

Há sempre quem lance gestos altivos para deixar bem claro o quanto você é um intruso. O arrogante te observa como se não pertencesse à humanidade e sempre aponta o dedo, como aqueles a quem Jesus fez questão de denunciar e já naquele tempo chamava de sepulcros caiados de branco.

Um episódio em especial sempre comento com os amigos próximos e agora partilho com você leitor. Eu era muito garoto e junto com minha mãe passamos por uma situação constrangedora e humilhante. Uma empregadora, à época, utilizou a simplicidade da minha mãe e a minha inocência para nos atingir com toda sua arrogância. Era uma advogada e fez questão de dizer à minha mãe que eu jamais conseguiria outra oportunidade de trabalho. Eu era tão criança, estava apenas começando e cheio de sonhos. Ela se irritou por ser contrariada e como se achava melhor, preferiu se fazer de ofendida com um questionamento leigo de uma faxineira e de seu filho que gostava de falar.

Anos depois, estava eu no parlatório falando a uma turma de formandos como professor paraninfo, e dentre os alunos de toga estava o filho daquela advogada. Pois é, o menino que jamais teria outro emprego na vida, fosse verdade a profecia daquela mandona arrogante, agora era o Mestre ensinante do seu único rebento. Não guardo rancor, como também jogo fora a notinha do mercado. Se precisar trocar alguma coisa, tem que ser na base da confiança.

Naquela época eu era assíduo leitor do jornal “Estadão” e gostava de mostrar à professora Cida, na escola, que sabia bastante sobre o que representava o aperto de mão entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat. Aliás, meu primeiro trabalho fixo era atender o telefone e anotar os recados. Anotava como quem registra um diário.

Até hoje pessoas arrogantes vez por outra tentam tirar meu bom humor. De maneira especial, recentemente tive mais uma experiência me deparando com arrogância que veio misturada à prepotência e cinismo. Credo, quanto adjetivo ruim para uma simples senhora, mas é pura verdade.

A diferença hoje é que eu não gasto muita saliva. No fundo meu sentimento é de indiferença e até pena. Me coloco um pouco no lugar e penso que não deve ser fácil para ela e que outros a tenham tornado tão amarga. Talvez ela seja até uma vítima e acabou se tornando um poço de infelicidade. Fato é que arrogância anda de mãos dadas com a infelicidade e sendo assim, nem vale mais uma linha.

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”