Ao povo, a conta!

Nossos representantes nos dois poderes do Município, Executivo e Legislativo, fingem-se de mortos para não ter que reduzir seus ganhos enquanto prefeito, vice e vereadores. Quase todas as cidades paulistas demonstraram um mínimo de espírito colaborativo ao ceder parte dos subsídios de suas autoridades, decisão que também chegou aos principais escalões da administração pública e funcionários confortavelmente partícipes da folha de pagamento como comissionados.

Inacreditavelmente também alçançou os deputados, o que levou a Assembleia Legislativa do Estado a cortar na própria carne, algo jamais visto em toda a história republicana paulista.

A pandemia do coronavírus, a mais grave situação sanitária enfrentada pelo País desde a gripe espanhola, no século passado, não tem se mostrado suficiente em Mairiporã para fazer com que parte desses ganhos se reverta em favor da área da Saúde. Longe disso!

A situação nesse particular é revoltante. Os vereadores, que realizaram apenas uma sessão presencial em abril (nenhuma remota e a segunda, dia 30 de abril, quando os salários já estavam na conta horas antes), não se fizeram de rogado e receberam integralmente seus subsídios. Num momento grave, em que o percentual de desemprego disparou e estabelecimentos comerciais, industriais e outros setores da economia quebraram, os vereadores de Mairiporã se dão ao luxo de não cumprir integralmente a jornada que lhes cabia, porém com ganhos intactos. Sessões remotas, caminho encontrado por outros parlamentos por todo o País, até como forma de justificar esses ganhos, sequer foram lembradas pelos edis mairiporanenses.

Este jornal tem insistido sobre a necessidade de se fazer cortes, mesmo que extraordinários na folha salarial, na carne dos vereadores, dos políticos e do serviço público. O caminho percorrido é inverso: sem cortes, mas com os subsídios integrais na conta de suas ‘excelências’, mesmo sem a contrapartida.

Poderiam os nobres parlamentares alegarem demagogia. Aliás, na sessão do dia 9 de abril, um dos integrantes da tropa de choque do prefeito disse alto e bom som que a economia com cortes não seria expressiva. Num instante grave da vida nacional, com um futuro assustador, quando o setor produtivo, a iniciativa privada, empresários e empreendedores faturam menos, com previsão de queda na arrecadação com impostos, seria oportuno o vereador dissertar sobre o que considera pouco ou muito expressivo.

E são todos os que agora amargam a crise, os que já perderam o emprego, os que quebraram e os próximos da falência, que vão pagar a conta.

Em recente nota na Coluna do Correio, neste semanário, foi citada uma frase bastante oportuna nestes tempos de pandemia, um exemplo inequívoco da diferença entre políticos e os seres mortais: “O político pega, não paga. O povo paga, não pega”.