Ad gustum

Um dos aspectos mais deploráveis das discussões sobre a tragédia que atingiu a sociedade brasileira é a crítica “ad gustum” que tira prazer em fulanizar a sua autoria. Nem o ataque furibundo ao governo afastado nem a defesa enfadonha e repetitiva de seus correligionários têm grande relevância.
Procura-se negar, com argumentos inverossímeis: 1º) que não houve a aprovação de despesas antes que o Congresso autorizasse a alteração da “meta” com a justificativa que ela “seria anual”, o que encerra um absurdo, uma vez que teríamos a meta “não vinculante” e 2º) afirma-se que as chamadas “pedaladas” sempre existiram, mas se ignora a especificidade e a dimensão das praticadas em 2014 e 2015, quando, de fato, caracterizaram empréstimos de bancos públicos para o Tesouro nacional, operação incestuosa expressamente proibida pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Depois de uma boa administração em 2011, o governo desandou num voluntarismo insensato que destruiu a confiança do setor privado. A desagradável verdade é que, depois da reeleição, ele perdeu o voto dos eleitores que enganara no processo eleitoral. Com uma campanha “trilionária” e agressiva, escondeu a real situação social e econômica do país.
Fez mais. Adotou como seu o programa econômico do adversário que criticara, sem dar a menor explicação à sociedade. Como consequência, no início de 2015 perdeu o seu protagonismo, ao mesmo tempo em que colheu os frutos amargos da recessão que se iniciara em 2014.
Os resultados sociais e econômicos do último quinquênio (2011-2015) revelam o desastre: 1º) um aumento do desemprego que agora atinge mais de 11 milhões de trabalhadores; 2º) uma regressão na distribuição de renda; 3º) uma estagnação do PIB total, mais uma queda de 4% no PIB per capita; 3º) uma taxa de inflação de 40%, quando a meta era de 25%; 4º) um déficit acumulado em conta corrente que somou quase US$ 400 bilhões e destruiu o setor industrial; 5º) um déficit fiscal de 6% em 2014 e 10% em 2015; 6º) um aumento da relação dívida bruta/PIB de 52% para 66% e, por fim, mas não por último, 7º) a perda do “rating” soberano que havíamos obtido em 2011!
Como chegamos a esse resultado é sabido, mas quanto antes reduzirmos as incertezas que naturalmente cercam a interinidade do poder, mais cedo teremos condições de corrigi-lo.
Sem apelar para qualquer julgamento de valor, parece claro que as condições objetivas que estamos vivendo mostram que não há a menor probabilidade de que o governo afastado possa recuperar o mínimo de operacionalidade para fazê-lo.

Fonte: Uol

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *