À primeira vista

Convenhamos, não é com todas as pessoas que a gente se dá bem logo de cara. Quem fala que nunca olhou para uma pessoa mesmo sem nunca ter ao menos falado com ela, ou se incomodou com algo que ela fez, está mentindo. É o famoso “o santo não bateu”, como muitos gostam de justificar. Coisa de energia, uma força quase cósmica que te fala ao pé do ouvido: “aquela pessoa não é legal”. Uma intuição que pode não se confirmar no futuro. Mas, quando se confirma, tem coisa que satisfaz mais o ego do que encher a boca para dizer: “eu avisei! Sempre soube que fulano não prestava!”?
Se o cosmos funciona para nos afastar daquelas pessoas que nos passam uma impressão ruim, serve também para nos aproximar de outras. São aquelas com as quais sentimos uma ligação tão forte, tão profunda, que não conseguimos nem ao menos explicar. Não, não estou falando de interesse romântico, de paixão avassaladora. Estou falando de pura e simples amizade.
A amizade real, aquela que dura por anos (ou pelo menos você deseja que dure). Exclua dessa lista aquele amigo do trabalho com o qual você só conversa durante o expediente; aquela ex-colega de sala com a qual você fala de cinco em cinco meses. Estou falando daquela pessoa, a primeira que vem à cabeça quando a palavra “amigo” é ouvida. Aquela que você se preocupa sim, aquela em quem você simplesmente confia. Já te aconteceu de se identificar com alguém mesmo que a pessoa seja completamente diferente de você? Porque um amigo não precisa necessariamente gostar de tudo que você gosta, assistir tudo que você assiste ou ouvir tudo que você ouve. E mesmo com diferenças – muitas ou poucas – é como se você visse pedacinhos de você na outra pessoa, e ela passa a ser essencial nos momentos que não são fáceis, mas pelos quais todos passamos.
Ter um amigo no mundo pode mudar tudo. Pode deixar o céu mais azul e o dia mais claro. É verdade quando dizem que “nascemos sozinhos e morreremos sozinhos”. Mas o caminho até lá não precisa ser tão solitário.
Há quem acredite em amor à primeira vista. E não seria a amizade um dos tipos mais bonitos de amor?