A lição de casa

Como quase tudo começa depois do carnaval, segundo o dito popular brasileiro, trazer o tema: Planejamento do Ano Letivo, ainda cabe neste início de março. Ao mesmo tempo, pela sua importância, os primeiros planejamentos oportunizam aos professores entenderem melhor as necessidades de seus alunos e as contemplarem no seu plano.

Como professores não trabalham sozinhos, também deu tempo de buscar colaboração com seus gestores da rede de ensino e equipes pedagógicas, gestores escolares, coordenadores pedagógicos, seus colegas e a comunidade escolar incluindo os familiares dos alunos e, a partir da BNCC- Base Nacional Comum Curricular e PPP-Projeto Político Pedagógico de suas escolas.

Normalmente o docente planeja o ano letivo e muitas vezes apela para os planejamentos de anos anteriores como referência, mas não deve desprezar as especificidades desse novo agrupamento, por isso é fundamental nesses primeiros quinze dias letivos a análise situacional de sua turma, também conhecido como diagnóstico. O que importa é ter a referência de cada um dos bimestres e a cada aula entrar com seu plano atendendo as necessidades pedagógicas da turma. Com isso incorporado na prática cotidiana do professor certamente o desenvolvimento da aprendizagem de seus alunos evoluem.

Importante considerar que 2022 foi um ano de adequação curricular diante dos impactos proporcionados pela pandemia que, inevitavelmente, criou ‘lacunas de aprendizagens’ nesses alunos diante do provável ‘ensino a distância’. Essa adequação curricular construída com o envolvimento de todos os segmentos deveria ser proposta pelos Gestores Educacionais dos sistemas de ensino locais – Secretários de Educação, com a participação dos Supervisores de Ensino, Equipe Pedagógica do órgão central dialogando com as equipes escolares – Diretores, Vice-diretores, Coordenadores Pedagógicos e docentes de cada unidade escolar. Se cumprida essa etapa em 2022, no retorno das aulas presenciais em 2023, o planejamento do ano letivo deve fluir com maior estabilidade e uniformidade nas redes públicas de cada localidade.

Caso contrário, as improvisações continuarão acontecendo e a máxima de ‘quem não sabe onde quer ir pode levá-lo a lugar nenhum’. Sendo assim, a diminuição das ‘lacunas de aprendizagens’ dessas crianças se ampliarão. No meu entendimento essa deveria ser a prioridade zero, pois além de atender o direito de cada aluno a aprender e evoluir em sua formação educacional, possibilita resultados positivos nas avaliações externas como, por exemplo, o IDEB ou outro indicador a ser aplicado na rede de ensino.

Ao considerar esse contexto o educador não pode perder o que chamamos de intencionalidade pedagógica, ou seja, quando a atuação do docente contempla os princípios e objetivos estabelecidos na BNCC, pelo Plano de Ensino da Rede Escolar e o Projeto Político Pedagógico da escola. A centralidade dos alunos nesse processo pedagógico de aprendizagem oportuniza um desempenho ativo de seus conhecimentos, pois as habilidades priorizadas, envolvendo todos os profissionais da educação da escola, possibilitará condições adequadas para as aprendizagens dos alunos, desde que sejam sempre consideradas as necessidades dessas crianças.

Seria adequado priorizar o currículo escolar diante das ‘lacunas de habilidades’ do período pandêmico, destacando as aprendizagens essenciais garantindo-as nessa reorganização curricular. Essa flexibilidade curricular possibilitará que as habilidades, os conhecimentos definidos pela BNCC e pelos currículos das redes de ensino que se distanciaram sejam retomados neste ano de 2023.

Evidentemente, necessário considerar se a ‘lição de casa’ orquestrada pelos gestores responsáveis pelas redes de ensino foram estabelecidas adequadamente no retorno as aulas em 2022 e se as ‘aulas de recuperação’’ foram suficientes atingindo com efetividade a evolução da aprendizagem dos alunos, caso contrário as ‘lacunas de aprendizagem’ continuarão se ampliando a cada dia. Sendo assim, como dizia o aluno hippie (Orival Pessini) da Escolinha do Professor Raimundo (Chico Anísio): “sem crise, meu” ou quem sabe “sei lá, entende?

 

 

Essio Minozzi Jr. licenciado em Matemática e Pedagogia, Pós-Graduado em Gestão Educacional – UNICAMP e Ciências e Técnicas de Governo – FUNDAP, foi vereador e secretário da Educação de Mairiporã.