A esperança do velho normal

Que saudade daquela aglomeração, não é mesmo? O processo de imunização finalmente parece que acelerou e já vai surgindo aquela esperança de logo voltar a ter uma vida semelhante à de antes. Aquele antigo ditado: ‘a gente era feliz e não sabia’, nunca fez tanto sentido. Entre flexibilizações e restrições, estamos há mais de um ano sem saber ao certo o dia de amanhã. Adiando viagens e sonhos. Que triste ver mês a mês, muitos que foram nos deixando e tantos que foram adoecendo, senão da doença, padecendo no aspecto psicológico.

Estava desanimado e parece que de repente os calendários foram diminuindo as idades e em pouco tempo poderemos ver no Brasil aquelas cenas que já se nota nos eventos esportivos nos Estados Unidos e na Europa. Particularmente, não vejo a hora de poder sair por aí sem máscara. Curioso pensar que há pessoas que passaram a fazer parte da minha vida no último ano e sendo assim, conheço pouco dos seus rostos, ou quase nada. Algumas destas pessoas eu jamais visualizei de rosto limpo. Não conheço o sorriso. Não sei se os dentes são justos ou mais afastados. Metade da beleza ou da feitura estão ocultos esperando o momento em que não seja mais necessária esta peça no vestuário.

Quero muito ver o que vão dizer aqueles que encontraram na pandemia a desculpa perfeita para se ausentar da minha vida e que vivem falando que quando tudo isso passar, vão fazer o que nunca fizeram. Coronavírus! Esse veio como um tsunami. Pena saber que houve quem dissesse que seria apenas uma ‘gripinha’. Sei que falta muito a percorrer, mas não consigo deixar de me sentir otimista sabendo que quando julho chegar, os cidadãos abaixo de trinta anos, já estarão sendo vacinados. Minha vez chegou nesta semana, já que sou profissional da educação. Foi dolorido, ao menos para mim, mas que fantástica a sensação de sair da unidade de saúde com a famosa carteirinha verde comprovando a primeira dose.

Quando tudo passar mesmo, eu que já gostava disso, juro, vou abraçar todo mundo! Não vou nem querer saber desse tal de novo normal. Me interessa mesmo é o velho normal. Quero o cinema cheio e uma criança chata comentando durante o filme. Uma senhora tossindo um pouco abaixo e fila para comprar pipoca. Quero ver um espetáculo musical de alguém que goste muito. Quero voar e da janela do avião, enxergar que a humanidade e a medicina venceram. Quero gritar no Morumbi um gol do São Paulo e vibrar tanto que na no dia seguinte a garganta fique doendo. Eu quero mesmo é a proximidade, como o amor pede.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb