A docilidade de uma pequena florista

Sábado à tarde fui surpreendido e fiquei bastante emocionado com uma cena que pode ser descrita como singela e enriquecedora. Participando de uma cerimônia de casamento, eu e todos os presentes ficamos encantados logo no início com a entrada de uma pequena florista: Duda Bressan! Pequena na estatura e pouca idade, mas gigante no gesto de vencer suas limitações físicas, por ser portadora de uma síndrome conhecida como ossos de cristal. Com apenas quatro aninhos, a vida da pequena é um milagre de Deus e uma grande superação.

Vinha sorridente e conduzindo com habilidade a pequenina cadeira de rodas com adornos de flores. De maneira surpreendente se deslocava intercalando seus movimentos com a missão de florir o caminho para passagem da noiva que viria na sequência, seguindo o protocolo do cortejo de entrada na cerimônia. Se dava ao luxo de, por vezes, jogar beijinhos aos noivos que no altar aguardavam também encantados com tamanha doçura que Duda era capaz de distribuir, além das pétalas pelo corredor.

Em um mundo com tantos motivos para se aborrecer, no fim da tarde de sábado ela sem dúvida tornou-se razão de reflexões acerca das tantas reclamações que às vezes fazemos por tão pouco. Tão jovem e com uma grande limitação, mas apesar disso seu semblante seguia pelo ar e roubava nossas lágrimas pensativas com seu modo desconcertante de seguir girando as pequenas rodas de sua cadeira. Ao mesmo tempo em que cumprira aquela missão, levava consigo a certeza de que Deus nos criou para o sucesso e para a prosperidade e que é possível ir em frente na vida, mesmo com as dificuldades que todos temos.

Pensei em silêncio o quanto por vezes vivi a religiosidade de maneira infantil, falando com Deus como se fosse responsabilidade dele fazer todas as minhas vontades. Parece mesmo que o Mestre reserva no cotidiano os grandes ensinamentos que precisamos. Está tudo ao alcance dos olhos. No ordinário das cenas a vida se desdobra e as pequenas coisas fazem sentido quando olhadas sem pressa.

Duda me emprestou sua coragem e diminui as minhas dores. Fecho os olhos ainda e vejo os arranjos do cabelo contra o vento e sinto minha alma repleta de esperança para continuar a missão de sentir e falar aos outros das verdades que me servem primeiro.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb